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Um Queijo feito por Mulheres!

Christiane Brandão é a quinta geração de uma família de agricultores familiares que faz queijo minas artesanal em Santo Antônio do Itambé, região do Serro, em Minas Gerais. A continuidade da tradição já está garantida, pois Jady Brandão, 20 anos, filha de Christiane já está no ofício.

O queijo Maria Nunes é de leite cru de um rebanho de vacas de raças cruzadas rústicas e Jersey criadas soltas a pasto (capim braquiária) ao lado de seus bezerros. “O bem estar animal é prioridade. O leite de um animal saudável e feliz é o principal ingrediente para nosso produto de qualidade. Aqui elas são nossas rainhas e seus bezerrinhos são nossas maiores riquezas, eles tem o período de convivência com as mães todos os dias“.

Uma história de família

Eu nasci na roça. Cresci vendo meu pai fazer queijo e criar de gado. Uma das minhas brincadeiras prediletas era ficar no curral, tomar leite tirado na hora da teta da vaca, quentinho!! Comer massa de queijo escondido no quartinho do queijo, é muito bom!!!! Na hora de almoçar minha mãe sempre brigava porque eu não aguentava comer mais nada de tanto queijo que já tinha comido. A gente corria atrás dos bezerros, caminhava até o tanque onde as vacas bebiam água… Na frente da casa tinha um pomar lindo com várias frutas. Eu e meus irmãos brincávamos de subir nas árvores, minha fruta predileta é a ameixa amarela, corríamos em volta da casa, brincávamos de esconde-esconde, ai..ai que saudade de um tempo bom! Meu sonho quando criança era ser veterinária e ter um cavalo! Eu queria cuidar dos bichos, eu gosto de cuidar…” disse Christiane.

Jady Brandão(20 anos), Maria Celida (70 anos) e Christiane Brandão (38 anos).

O tempo passou e ela foi estudar na capital, em Belo Horizonte. Formou em Sistemas de Informação e fez pós graduação em Gestão. Mas o sonho da roça  sempre esteve vivo. “Os sonhos não envelhecem, estão sempre na alma da gente!” conta a produtora. Com o falecimento do seu pai de forma bruta e repentina, ela ouviu o chamado para voltar pra roça em 2012.

“Larguei o emprego e voltei para o curral, para o quarto de queijo e aprendi, aprendi, aprendi! Certeza única que irei aprender para sempre!. De lá pra cá já se passaram quase 9 anos de muita luta, fé, aprendizado e a certeza no coração de que vai dar tudo certo. Com a minha chegada em um mundo todo novo, novos desafios, nova realidade, já senti uma dificuldade muito grande pelo preconceito e resistência, pelo fato de eu ser mulher, em um ambiente totalmente masculino e com costumes antigos e arraigadas tradições.  Uma das minhas maiores lutas hoje, é mostrar que fortalecer o empoderamento e o protagonismo da mulher do campo é uma ação importante para o desenvolvimento rural sustentável. Trabalhar para isso se tornou o marco da minha trajetória. Na fazenda eu tenho buscado trabalhar com funcionárias mulheres que me ajudam a fazer parte do trabalho, onde antes só os homens atuavam. A luta é grande, bem maior é a vitória! Nossa região, por ser histórica, sempre imperou aqui, desde 300 anos, o “Coronelismo” de um lugar marcado pela escravidão, exploração de ouro e diamante” desabafa Christiane.
O caminho a percorrer é longo. Ainda estamos só no início, preparando a terra para as novas sementes!”

Trabalhando com outros produtores de queijo da região, Christiane procura orientar e desenvolver ações para mudar esta realidade. “Temos aqui na região a Associação dos Produtores Artesanais do Queijo do Serro (APAQS), o Sindicato dos Produtores e trabalhadores Rurais do Serro e a CooperSerro(Cooperativa de Produtores) que realizam ações para unir, fortalecer e apoiar o produtor. Meu sonho é contribuir para o crescimento da região e o fortalecimento da agricultura familiar para que os produtores possam ter, através do queijo, o sustento digno de sua família” disse ela.

Mãe e filha são as idealizadoras do projeto do Queijo Maria Nunes. O nome é homenagem à Fazenda Maria Nunes, onde viveu seu pai. “Eu tenho em meu coração a intenção de honrar sua memória.  Ele tinha um sentimento especial por esta terra aos pés do Pico do Itambé” disse ela.

O Itambé, chamado “teto do sertão mineiro”, é um dos pontos mais altos da Serra do Espinhaço, com 2.002 metros de altitude. Foi o marco referencial para naturalistas, exploradores e bandeirantes que passaram pela região desde o século XVI. A cadeia de elevações é a vertente de três das principais bacias hidrográficas do estado: as bacias do São Francisco, do Jequitinhonha e do Rio Doce.

Maria Nunes: um queijo de terroir

Queijo de mofo natural.

Produzido e curado na fazenda, o queijo Maria Nunes é feito de leite cru, pingo, coalho, sal “e amor” remarca a produtora. “Logo depois da ordenha, ainda quente, nós produzimos com nosso modo de fazer tão simples e cheio de tradição e valores, do mesmo jeitinho que há 300 anos” conta a produtora. No terceiro dia de fabricação ele segue para a cura em tábuas de madeira com controle de temperatura e umidade acima de 85%. “O cuidado é diário, ele é lavado por dias, ralado, lixado, escovado e claro, amado, muito amado…” disse ela, que fez cursos de capacitação para aprimorar suas técnicas de cura.

As vendas são a partir de 17 dias de maturação. Os principais detalhes que influenciam no “terruá” do Queijo Maria Nunes são o clima tropical de altitude, com pluviosidade média anual de 1403 mm relevo e temperatura média de 20 ºC; a vegetação de Mata Atlântica e uma altitude de 850 metros. A Serra do Espinhaço é uma região abençoada pela pureza da água de montanhas que corre pelas inúmeras cachoeiras em uma natureza diversa e rica. Tudo isso, aliado a rusticidade do gado, favorece a presença de bactérias que interferem em seu sabor.

Essa qualidade foi certificada pelo selo de Indicação Geográfica Protegida – IGP. Assim como o modo de fazer o queijo, reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro.


Premiações

  • Mundial do Queijo de Tours na França: medalha de prata em 2019.
  • Mundial de Queijo do Brasil em Araxá: duas medalhas de prata em 2019.
  • III Prêmio Queijo Brasil: medalha de Bronze em 2018
  • IV Prêmio Brasil: com duas medalhas de bronze nas maturações de 30 e 60 dias.

Harmonize nosso queijo

  • Vinhos: Porto (fortificado), casta tinta Pinot Noir e Madeira Boal.
  • Cervejas: Pilsen, Oktoberfest/Märzen, Belgian Blond Ale, Trapista e Strong Scotch Ale.
  • Cachaças: armazenada em carvalho (toque sutil), armazenada em carvalho (toque marcante), armazenada em imburana, armazenada em bálsamo estilo Salinas e Prata (não armazenada).

Contatos

Telefones:

38 9 98489647 Claro

31 9 93552311 TIM Whats

Instagram: @queijomarianunes

Facebook: queijomarianunes

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