Descendente de uma tradicional da Serra da Canastra, Silmar de Castro Mota e seu marido Vicente escolheram como projeto de vida preservar as duas maiores riquezas da Serra da Canastra: o queijo e a natureza.
A fazenda fica às margens do rio São Francisco e produz o super tradicional queijo Minas artesanal canastra e mantém uma eco-pousada, a Fazendinha da Canastra.
O rebanho de 24 animais, sendo 12 em lactação, é cruzado Gir, Jersey e Holandesa. O alimento é pasto o ano inteiro, sendo 7 ha de pasto rotacionado e 10 ha de pasto nativo. “Na seca complementamos com cana e milho seco triturado com espiga e palha, mas não utilizamos silagem porque sabemos que não é bom para a transformação queijeira, altera o sabor e a qualidade do queijo” explica Silmar.
A receita do queijo vem de três gerações, mas desde que Silmar se profissionalizou em um curso de curas de queijo realizado pela SerTãoBras em parceria com escola Enilbio de Poligny, pelas professoras Delphine Géant e Débora Pereira, ela decidiu favorecer o mofo branco naturalmente na casca do queijo, através de cuidados especiais de cura. “Todas as floras que se manifestam nessa casca são naturais da região, é a assinatura do nosso terroir” explica Silmar.
Os bisavós garimpavam diamante e a produção de queijo sempre foi paralela à atividade. E com o fim do ciclo do diamante, o que vingou e prospera é o ciclo do queijo, ouro da Canastra hoje em dia. “Quando me casei decidi voltar para roça. Resgatar cultura, a comida no fogão de lenha, as quitandas, as broas, a arquitetura e principalmente a produção de queijo. Há 4 anos fazemos queijo todos os dias e cada dia é mais gratificante. Estou me descobrindo muito com o queijo, ele reflete a água, o clima, reflete nosso carinho e nosso capricho, tem muita expressão no queijo” disse Silmar.
“Tenho uma memória afetiva muito grande em relação a esse lugar, e fui ficando, veio a vontade de ter mais vaquinhas, de falar do queijo para os clientes” disse Silmar.
O reflexo de todo esse cuidado veio à galope. O queijo canastra Santuário do Mergulhão ganhou os prêmios SuperOuro?e Prata?no Mundial do Queijo d Brasil de Tours, na França em 2019 e duas medalhas de prata no Mundial do Queijo do Brasil (em 2017 e 2018).
Ecoturismo inteligente: plantando água
A paisagem é de perder de vista. As cachoeiras de águas claras revigoram corpo e espírito. “Nós visamos a sustentabilidade e preservação ambiental como objetivo na nossa produção rural” explica Vicente. A pousada oferece ao turista não só boa comida e bons queijos. Cada um que se banha no rio e que caminha pelas matas se enche de boas energias, se acalma, recarrega suas forças e respira saúde.
A pousada já tem 20 anos. O primeiro desejo do casal foi desenvolver um trabalho de preservação das matas ciliares e recuperação das áreas deploradas pelo garimpo. “Quando compramos a terra, havia áreas da fazenda onde o solo nem tinha umidade, era muito degradado. Fizemos um programa de reflorestamento e a água começou jorrar. Hoje tem 30 mil litros de água brotando por dia da terra. Notamos também que a fauna aumentou” observa Vicente.
A gente escuta passarinho cantando, tem gaviões e falcões de diferentes tipos, tem o pato Mergulhão (que está em extinção), tem veados. Eles se sentem seguros pois não tem agressão da natureza aqui” disse ele.
Entre os microclimas da canastra, que resultam em queijos de diferentes sabores e texturas, podemos dizer que o Santuário do Mergulhão tem algo bem. “O queijo é mundo de sensações, no nosso podemos sentir essa força da natureza, da água, das matas” explica Silmar. O mofo branco é natural. A produção diária é de 10 peças e todos os queijos são curados no mínimo 30 dias, na própria fazenda, para adquirir o sabor e qualidade que Silmar faz questão de oferecer aos seus clientes.
O casal está sempre feliz de compartilhar as histórias da fazenda, ao redor de uma boa mesa de café, pão de queijos e quitandas feitas localmente.
A comercialização do queijo é feita direta para consumidores. São fabricados na pousada doces para serem servidos de sobremesa e os hospedes podem comprar para levar para casa: Doce leite, leite com coco, ambrosia, mamão com abacaxi e bananada.
Silmar e Vicente fazem parte também da Associação Aprocan, que realizou o vídeo acima.
“Quem quer sossego e tranquilidade é na fazendinha! Você é acolhido na cozinha que te faz lembrar das antigas fazendas, onde o melhor bate papo se dá na mesa farta! Quanto as acomodações, tudo muito rústico. Mas é esta a proposta né? O passeio no alto da serra com o Vicente é investimento ao conhecimento. Flora e fauna diversificada, a nascente do Chico, e as risadas são garantidas com as piadas do Vicente… e de graça! Recomendo! É algo diferente, uma proposta de volta as origens, de quem nasceu no sítio, ou quer conhecer um pouquinho.” Depoimento de uma turista publicado no Tripadvisor.
Endereço: Estrada de Vargem Bonita/São José do Barreiro km 12, São Roque de Minas, CEP 37928-000 Minas Gerais (A fazenda fica a 12 km de Vargem Bonita, sendo 5 km de estrada de terra)
Livro “Os Queijos de Leite cru”, de Arnaud Sperat Czar, para download!
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