O casal sírio-brasileiro Bahaa e Zuleica são os fundadores da Cumbe Queijaria em Euclides da Cunha, cidade-oásis no meio do sertão da Bahia, com 66 mil habitantes e a 330 km de Salvador. “Começamos em 2019 e estamos avançando super bem, as pessoas tem amado os queijos de leite de cabra, fazemos boursin, chevrotin e variações no vinho, defumado e com pimenta do reino. Criamos um menu para degustação e convidamos os amigos para conhecerem novos queijos, mas por enquanto o mais vendido é o coalho” conta Zuleica.
A Queijaria está em fase de adequação do SIM (Sistema de Inspeção Municipal) , pois o município de Euclides da Cunha já possui a regulamentação . “Fomos recebidos de portas abertas por eles, apresentamos nossa demanda para legalização da Queijaria e esperamos que até o fim do ano fique tudo pronto, seremos a primeira queijaria oficial da região” conta Zuleica.
Relação com fornecedores: realizando sonhos
Zuleica tem 3 fornecedores de leite no momento. Sua raça preferida é a Anglo-Nubiana, originária da África e bem rústica, adaptada ao sertão e de dupla aptidão, leiteira e corte. “O leite dela tem mais sólidos e mais gordura, o queijo fica um pouco diferente, mais forte” observa Zuleica, que transforma o leite sete dias por semana
As cabras são criadas soltas e sua alimentação é complementada com ração ou torta de algodão no final do dia. A ordenha é manual. “Um deles vai investir em ordenha mecânica com o dinheiro que está ganhando com a venda do leite. Eles estão sonhando, como agora pinga o dinheiro todo mês, um outro comprou mais cabras”.
Um caminho de volta para as origens
Zuleica nasceu em São Paulo, mas foi em Euclides da Cunha que ela passou todas suas férias de infância. “A minha mãe é de Euclides da Cunha, meu pai é mineiro de Muzambinho, os dois se casaram e foram ganhar a vida em São Paulo. Criei um vinculo com o sertão que não sei explicar, em mim foi nascendo um sonho de me instalar aqui, fazer queijo de cabra” confessa ela.
Depois de trabalhar muitos anos como engenheira têxtil, em 2019 ela decidiu mudar de vida quando seu marido Bahaa, fez sua primeira visita a Euclides da Cunha. “Ele tinha experiência com fabricação de queijo na Síria. Quando veio conhecer a região, gostou muito daqui e me propôs de mudar de São Paulo. Foi o estopim, começamos o ano a vir várias vezes por ano para fazer pesquisa, ver casas, conversar com a prefeitura local e construir o projeto da queijaria para começar fazendo tudo certinho, na legalidade” contou a produtora.
A mudança da família ocorreu em setembro de 2019, o plano inicial era um laticínio para transformar leite de vaca em muçarela e queijo prato. “Mas no começo da pandemia, conhecemos produtores de leite de cabra que precisavam vender seu leite, começamos a comprar em abril para fazer queijo. Aqui tem um rebanho caprino muito grande, mas não tinha para onde direcionar o leite” explicou Zuleica. Hoje ela tem 3 fornecedores e transforma 45 l por dia.
Turismo Rural e vendas
Cumbe é uma vila satélite de Euclides da Cunha que tem mais 30 povoados: Aribicé, Tucuru, Massaracá e outros nomes indígenas. Zuleica está estudando a relação dos nomes com os povoados de onde vem seu leite para batizar os queijos.
“Estamos na onda onde tudo se converge. Eu tenho outro sonho que é o turismo rural, o sertão é muito lindo, as pessoas não têm oportunidade de conhecer. Vamos valorizar o sertão, os nomes daqui, nosso terroir” espera ela. “No começo tive que explicar para todo os clientes locais o que era boursin. Mas, entre os diferentes, o que eles mais gostam é o maturado no vinho, para comer em aperitivos. Já os clientes de São Paulo preferem o boursin e o chevrotin, e compram menos o coalho” disse ela.
Livro “Os Queijos de Leite cru”, de Arnaud Sperat Czar, para download!
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