Dora Laender é a quinta geração de agricultores em Teófilo Otono que, aos 25 anos, deu uma guinada na fazenda em direção ao queijo. Com seus irmãos Maria, 28 anos, e Gabriel, 27 anos, um trabalho familiar em torno da sustentabilidade do negócio começa a acontecer.
“A nossa história começou por volta de 1870 quando nossos trisavôs Joseph Laender e Eleonora Shirmmer Laender vieram da Alsácia Lorena (região francesa na época sob o domínio Alemão durante a guerra franco prussiana) para Teófilo Otoni e adquiriram da colonização do Vale do Mucuri uma terra de 60 hectares que denominaram de Cangalha Velha” conta Dora.
Aos poucos, a família foi adquirindo outras terras aos redores e batizaram de fazenda Jurema, por conta da grande quantidade de árvores nativas desta espécie na região. A propriedade hoje tem 523 hectares.
“Aqui se produzia quase tudo, da cachaça ao queijo, os únicos ingredientes que vinham de fora eram o querosene e o sal” lembra Eduardo Laender, pai de Dora. Em 1985, ele assumiu a administração da fazenda das mãos do avô Júlio. Em 1993 ele herdou por definitivo a fazenda Jurema, e a partir daí fomos dando continuidade a história.
Dora saiu da fazenda para estudar gastronomia na capital, no meio do curso sabia os caminhos que não gostaria de seguir, mas ainda era incerto qual rumo tomar. “Sempre fui apaixonada pela fazenda, passei a maior parte da minha vida morando aqui. A volta pra Jurema sempre foi uma certeza minha e dos meus irmãos, o sonho desde sempre foi dar continuidade a essa história linda que meus antepassados haviam começado a mais de 140 anos, mas não sabia muito bem qual tarefa eu assumiria. A “virada de chave” aconteceu quando terminei minha faculdade, meu irmão já estava administrando a fazenda com o apoio do meu pai e da minha mãe, sentamos todos para traçar novos planos para a Jurema e me ofereceram a oportunidade de aprender um pouco mais sobre o queijo”.
A fazenda sempre produziu leite, o queijo existia como uma atividade secundária, os pais haviam feito cursos e processavam uma quantidade pequena para consumo e venda na cidade.
Eu estava literalmente com ‘a faca e o queijo nas mãos’, mas ainda sem saber por onde e como começar.”
Quando Dora voltou para a fazenda em 2018, ela começou a pesquisar cursos e modelos de produção para se inspirar. Logo em seguida surgiu a oportunidade de fazer o curso “Filhos do queijo” n’A Queijaria em São Paulo. “Na primeira aula do curso fomos para a Serra do Japi conhecer a fazenda do Érico Koyla e no final do curso tive a oportunidade de fazer um estágio lá de um mês. Foi de grande relevância e muito aprendizado. Tinha certeza que havia me encontrado no mundo dos queijos. As coisas fluíam com muita naturalidade quando decidi trabalhar com queijo e isso me emociona” disse Dora.
Voltando para a produção da fazenda, cada um assumiu uma responsabilidade dentro do negócio; Maria, cuida da parte artística e do design gráfico dos produtos, Gabriel administra a fazenda e Dora, a caçula, é responsável da produção dos queijos. A mãe Lenísia se dedica a preservação e restauração dos ambientes históricos da fazenda. Eduardo segue tranquilo passando o conhecimento adquirido ao longo dos anos como administrador rural e compartilhando os causos e histórias que foram vividas. “Meu avô com seus 92 anos de “rastro fundo e trecho corrido”, como ele mesmo diz, é o maior incentivador deste projeto, participando efetivamente em todas as decisões tomadas por aqui com sua larga experiência, olhar inovador e prospectivo” conta Dora.
“Para conseguir aperfeiçoar a maturação, climatizamos uma sala antiga da fazenda. Nossa região é bem quente, a fazenda está localizada no leste de Minas Gerais, próximo à divisa com o Espírito Santo e Bahia. As paredes com 45 cm de espessura feitas de adobe ajudam a manter a temperatura e umidade ideais para a microflora local entrar em ação.”