por Robin Geld
Outro dia falava com minha dentista em São Paulo, sobre a visita da SerTãoBras à região do semiárido no norte de Minas, próximo a Montes Claros, perto de Janaúba, onde haviam feito a doação de cisternas. A dentista, com toda parafernélia das mais modernas, como eu antes (com toda a minha literatura) me olhava inquisitiva e um tanto perdida, até relativo às cisternas. A sua assistente, que eu já percebera meiga na voz e trato, ia se iluminando, por fim não se conteve: “Sou de lá!”.
“Então você deve saber das cisternas”, eu disse animada em poder partilhar com alguém que entendesse do mundo novo que ali se abriu para mim, e aprender um pouco mais.
“Ah, sim, a minha família mesmo tem”.
Passamos então a falar das cisternas para captação das águas da chuva, do calor seco, de árvores, e frutas de que eu nunca ouvira antes.
“Se eu já tomei suco do fruto do embuzeiro? É muito bom, e a árvore tem como se fosse uma bolsa de água nas raízes!” disse a assistente.
“É, doutora, tanta coisa a conhecer e não tem como não se contagiar… Em Geografia da Fome, o grande escritor e pesquisador Josué de Castro, que também só fui ler com avidez depois da visita ao norte, fala da poesia e “exageros” compreensíveis nos relatos de Euclides da Cunha, von Martius… o umbuzeiro é salvação, árvore fonte nas grandes secas do sertão! E é uma árvore bonita, não vi com frutos quando estive na semiárido, mas estava todo em flor dourada”.
“E a barriguda, com aquelas flores rosas tão lindas!”
E assim fomos falando numa troca que não teria acontecido antes, entre doutora, assistente e paciente, e que nos deixava mais humanas e solidárias.
“Interessante esta captação das águas das chuvas… Daria para fazer por aqui mesmo”, refletiu a doutora.
“Conheço quem colocou cisterna na casa aqui em São Paulo É de brasilite, e ela usa a água das chuvas para lavar roupa e molhar o jardim. Diz que economiza muito.”
Têm sido muitas as repercussões enriquecedoras deste projeto das cisternas, e por ser a água questão de todos, as soluções ali apresentadas também mexem com todos. E por ser de todos, vai dando ao termo “solidariedade” dimensão e vida apreensíveis.