por Robin Geld
Alonso e as assistentes Fernanda e Kelly nos levariam para visitar duas famílias beneficiadas na Tracbel: Vertudo Barbosa Daniel, Presidente da Tracbel que muito ajudara no projeto, e Maria Célia Bispo dos Santos, a viúva que não podia beber água salobra devido a problema nos rins.
Zé Américo, Lian e Robin seguiram para Tracbel logo pós apreciação da primeira cisterna. Levando em conta que a Sede, a escola e os vários moradores à volta já contavam com poço artesiano e água encanada, à primeira vista não havia se mostrado de grande necessidade.
As virtudes das cisternas em propiciar água doce das chuvas por todo o período da seca e ainda no próprio quintal, junto às cantadas qualidades da água doce—boa de beber, boa para lavar, boa de cozinhar—o feijão não fica encroado—, e a constatação de que devidamente tratadas, eram saudáveis, já iam pronunciando serem elas, senão veras soluções e necessidades, altamente desejáveis e práticas.
A casinha de Vertudo como muitas outras que veríamos, não estava acabada, mas já chamava atenção por algum zelo, bem querer da vida, várias plantas adornando a entrada, e assim que chegamos, a mulher, Maria, nos ofereceu cafezinho, muito apreciado. Todos hospitaleiros e atenciosos, o filho também. Tinham algumas modernidades, tv e geladeira, e um poço, assim como tambor de 50 litros no quintal. Mas Vertudo não tinha dúvida: a cisterna que estavam construindo iria melhorar a vida deles. A capacidade grandemente aumentada de armazenagem das águas da chuva, não só assegurava água doce e, devidamente tratada, saudável para uso pessoal, como permitia o uso da água do poço para horta e outros cultivos.
“Tenho a maior satisfação em ajudar na implantação das cisternas, ver a alegria dos beneficiados”, disse. Se para eles a diferença seria grande, imagine para a família que íamos visitar em seguida.
Alguns kms a mais, e nós, a equipe do IDS e Vertudo paramos nossos carros para andar pela estradinha que nos levaria a uma situação de carência a que nem as informações anteriores nos preparava. Casinhas de tábua, vasilhames, lixo, mas também algumas galinhas, assim como vestígios de plantações passadas. Maria Célia tinha ido a Janaúba, mas estavam a filha Eduarda, o genro Damião e os três netos, simpáticos em nos receber, mostrar e falar do lugar. Eduarda contou que a mãe ficou viúva quando o pai sofreu acidente fatal ao socorrer homem fazendo um poço de 30m (o que ela chamou de cisterna)! A mãe tinha problema nos rins e não podia de jeito nenhum tomar água salobra. Só água da chuva que guardava em vasilhame ou água de Janaúba.
“A cisterna é uma benção”, disse sorridente, a filhinha no colo e os outros do lado, um nú e outro de shorts. “Não tenho nem palavra para agradecer. Essa cisterna dou graças a Deus primeiro, depois vocês, e Sr. Vertudo que ajudou, a gente nem acredita, vai melhorar tanto!”
Era difícil ali, mas tinham a terrinha e toda vontade de trabalhar, “Quando é época, a gente planta milho, feijão, abóbora, mandioca”. Perguntada há quanto tempo morava no lugar, “Tanto demais, que nem dou conta”.
Entardecia, e despedíamo-nos. No caminho de volta paramos rapidamente em mais dois lugares, Zé Américo disse que faziam questão da nossa visita. Maria Zenilda e o filho Romildo nos mostraram com orgulho a cisterna pronta para as chuvas. A casa de Geraldo faltava acabar, mas convidou para entrar na singela cozinha/sala com todos os improvisos de quem sabe se virar, fogão a lenha… Ofereceu com muito prazer dois cachos de banana para Sr. Gabriel e Dna. Vera. Agradecido do fundo do coração. “Água doce, não tem igual”.
Estávamos prontas para chegar em casa, planejando ficar um pouco mais, havia ainda muito a ver, pessoal com experiência das cisternas doadas pela Cáritas, outros que necessitavam e não receberam… Antes de entrar na casa, decidimos aproveitar a cena de plantas e árvores iluminadas pela lua cheia, respirar um pouco, dar espaço para tudo o que presenciamos e sentimos ir se assentando, a casa e o conforto e a promessa de um bom jantar aliviavam, mas íamos pousando, aos poucos.