por Robin Geld
Tudo confluiu para poder ficar mais alguns dias, e a cada dia, entre conversas com famílias dos assentamentos e pessoal da fazenda, e até presença na grande festa anual em homenagem a Nossa Senhora da Sáude, víamos o quão importante a chance de trocas pessoais, especialmente quando as pessoas sentem vero interesse no que elas têm a dizer, e no local em que vivem.
As necessidades podiam variar, mas verificavamos que o que não faltava nas famílias com cisternas, era vontade de batalhar, e que o valor das cisternas ia além de armazenamento de água e mais tempo para lavoura familiar.
Neguinho (Almerindo Batista de Lima), Ivanilda e o filho já tinham, há dois anos, cisterna da Cáritas. Era preciso cuidar muito bem, tinham alguns probleminhas de rachaduras… mas era bom, ter a água de beber. “Antes, tinha que carregar água do vizinho. Água de beber ninguém nega, mas ter que pedir e ter que dar, é ruim para os dois”. Tinham alguns bois, galinhas de angola, plantavam o que dava, mandioca, feijão, milho, gurutuba. Tinham apoio da Emater, mas precisavam mais recursos, assim mesmo, se era difícil, antes pior.
Ivanilda contou “Neguinho era chapa de caminhão, ajudante geral. Quando eu ouvi dos assentamentos, eu gosto de roça, vi a oportunidade, agarrei, fui atrás, fomos sorteados em Janaúba. A gente vivia só no terreno dos outros sempre. Roça a gente precisa criar, ter galinha, ovo, plantar. Deus ajudou pra vir pra roça. Prometeram muito mais, era para ser lote cercado, irrigado, casa pronta. A gente ainda puxa água na carroça do poço lá embaixo, para plantação, é sacrifício, mas com coragem a gente vai”.
Disse Neguinho, que investiu em mangueira para puxar água, R$600,00, “A gente faz o que pode, vai tentando melhorar, mas tem dívida que não deixa dormir. Tem poço para abrir mais perto daqui, ai já vai ajudar. Mas a água salobra, para beber, tem gente que fica internada “. E mostrou os danos que os resíduos fazem na tubulação, entupindo. O filho andava alguns kms de bicicleta para chegar à estrada principal onde passava o ônibus escolar, e deixava com gente boa que cuidava até a volta. “É difícil, só quem tem coragem fica”.
Na casa de João Teófilo com cisterna da Sertãobrás, de um lado a carrocinha para puxar água, e do outro, a cisterna. Alegre, ofereceu café, sombra, lugar para sentar, e afirmava com tranquilidada o bem para a família da cisterna provendo água para os tempos da seca.
A família de Domercino já contava com cisterna da Cáritas, tinha uma pequena horta e plantação, coqueiros, bananeira, e para poder aumentar e melhorar a produção, estava para receber a cisterna de 50.000 litros, do programa ASA P1 + 2 ( 1 terra 2 águas). Alonso explica que é formado por uma cisterna toda enterrada e um terreiro cimentado, que serve para colher água e bater feijão, sorgo e milho no período das secas.
José Veríssimo de Souza mostrava uma situação mais privilegiada, tinha poço, mangueira, 4 cavalos, e mostrou com prazer e conhecimento os vários cultivos e plantações, Umbu-cajá, palma, fedegoso, Cajá-manga, chá da Índia, tamarindo, laranjeira, bananeira… e a cisterna da água doce.
Nos locais em que paramos onde não havia cisterna, não havia quem não quisesse a chance de poder armanezar tanta água da chuva.
Estávamos no último mês da seca, o céu continuava azul, nem mais perguntávamos da possibilidade de chuva: restava apelar para os céus.