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Os heróis do queijo brasileiro

Por Maria Canabal para o blog Maria Canabal “croque Le Monde” – tradução de Débora Pereira

A 20ª edição do “Slow Cheese”, feira internacional consagrada aos produtos lácteos artesanais e de boa qualidade, organizada pela Slow Food e pela cidade de Bra (Itália), aconteceu de 15 a 18 de setembro de 2017. Ao longo dos anos , “Slow Cheese”, que reuniu mais de 270 mil visitantes durante esta edição, ajudou a construir uma rede internacional de produtores de queijos, criadores de animais e curadores.

Enquanto o “Slow Cheese” destacava criadores e fabricantes de queijos artesanais que se distinguem por sua paixão, dedicação e compromisso com a busca pela qualidade, recusando os atalhos de uma falsa modernidade e respeitando a natureza, tradição e bem-estar animal, no Brasil, todo um estoque de queijos artesanais foi apreendido pelas autoridades durante o festival “Rock in Rio” e destinado a destruição.

A chefe Roberta Sudbrack*, que já teve em sua mesa todos os grandes homens do mundo, reis, presidentes e chefes de estado, quando ela era chefe do Palácio da Alvorada em Brasília, viu seu stand no festival invadido por 15 agentes que apreenderam seus queijos artesanais porque faltava um “carimbo” que permitisse sua venda na cidade do Rio de Janeiro. A chefe, conhecida por seu trabalho com artesãos do país há mais de vinte anos, está profundamente chocada. “A perda financeira é importante, mas vou lutar pelos meus artesãos. Agora não posso mais trabalhar. Fiquei atordoada. Mas agora eu tenho a raiva para lutar pelos produtores e pela riqueza culinária deste país “, disse ela.

Com uma área 16 vezes maior do que a da França, o Brasil tem um dos terroirs mais excepcionais do mundo. Seus oito climas tornam sua biodiversidade um potencial extraordinário. No entanto, as multinacionais de comida industrializada penetraram agressivamente no mercado, mudando profundamente a base da dieta brasileira e contribuindo para a obesidade da população. Alimentos industrializados e bebidas açucaradas estão disponíveis nos cantos mais remotos do país e a preços baratos.

Além do aspecto nutricional, não esqueçamos o aspecto econômico. À medida que os gigantes agro-alimentares conquistam o mercado brasileiro, eles transformam a agricultura local, levando os agricultores a abandonar as culturas tradicionais em favor da cana-de-açúcar, milho e soja, os principais ingredientes de muitos produtos alimentares industriais. É esse ecossistema econômico que destrói o trabalho dos artesãos.

No Brasil, o governo deve reconhecer os pequenos produtores que resistem, apesar das dificuldades, riscos, isolamentos e manutenção de um patrimônio extraordinário de conhecimento e de paisagens.

Viva o queijo do Brasil livre!

  • Roberta Sudbrack fez estudos de veterinária (sem concluir) e é chefe autodidata. Ela era chefe das cozinhas do palácio presidencial do Brasil. O seu restaurante “Roberta Sudbrack” (fechado em janeiro de 2017) recebeu uma estrela no guia Michelin. Possui restaurante e loja no Rio de Janeiro onde serve produtos 100% artesanais. Entre seus muitos prêmios, ela foi nomeada “Melhor Chef Feminino LATAM” na lista “Os 50 melhores restaurantes do mundo”. Ela é a chefe da equipe olímpica brasileira.

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1 Comentários

Carla
21/09/2017 a 16:44

Roberta Sudbrack não concluiu o curso de veterinária.

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