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Abraham Lincoln e o queijo mineiro

por Talita Aquino

Em seu último filme, Steven Spielberg apresenta uma biografia focada no último ano de guerra civil enfrentado pelo político norte-americano

 

Lincoln dizia que os Estados Unidos não podiam viver eternamente “metade livre, metade escrava”. Pois há que se dizer que o Brasil não pode continuar favorecendo os mineiros no que se refere ao consumo do Queijo Canastra e de todo o Queijo Minas. O Canastra carrega o título de Patrimônio Nacional e deveria estar ao alcance de todos no país e não só em um estado.

Spielberg acaba de lançar o filme Lincoln (indicado a 11 estatuetas no Oscar 2013), que nos ajuda a conhecer e entender um pouco a história dos Estados Unidos da América enquanto tinham Abraham Lincoln como presidente. O filme permite a reflexão sobre a política, a justiça e a economia desta grande potência mundial na época da Guerra Civil. Mas se o espectador brasileiro se permitir, o longa propiciará uma reflexão sobre nossa própria política, justiça, economia e as linhas controversas relativas aos direitos humanos.

Presidente Abraham Lincoln em fotografia da época e o ator Daniel Day Lewis indicado ao Oscar 2013 de melhor ator

Um país onde um Patrimônio Nacional circula as fronteiras de seus estados como produto contrabandeado, impedido de chegar a cada um dos cidadãos não por condições físico-geográficas, econômico-sociais, mas por diversos impedimentos sustentados pelo próprio Estado, será um país de fato democrático? O que dizer de um país que cerceia o direito de cada um de usufruir de sua cultura, de conhecer sua história, costumes, gastronomia?

A Constituição americana de 1787 previa que todos os homens fossem iguais perante a lei. Desta forma, como alguns poderiam ser escravos e outros não? Sua crença na lei levou Lincoln a defender intensamente o fim da escravidão em todo o território estadunidense, buscando apoio entre os líderes dos estados e no Congresso Nacional. Para que todos os homens fossem livres, todos os estados deveriam proibir a existência de escravos.

A retórica e os discursos de Lincoln ficaram famosos e o talvez o mais conhecido seja o Discurso de Gettysburg, onde defendia um governo ” do povo, pelo povo e para o povo” (Cenas do filme de Spielberg)

No Brasil, o Queijo Canastra não pode ser vendido nem em São Paulo, nem em Pernambuco, nem em qualquer outro estado a não ser Minas Gerais. Entretanto, esse queijo foi certificado em 2008 como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, um bem a ser defendido, preservado e valorizado. Contrária a esta prerrogativa, a legislação impede que ele seja comercializado fora de Minas por se tratar de um produto feito a partir do leite cru. As regras sanitárias exigidas pela federação não condizem com a realidade existente no Brasil e além de ultrapassadas, se inspiram em regulamentações destinadas a outras condições climáticas e geográficas.

O Estado, ao invés de alterar esta legislação em prol do cumprimento de igualdade de direito a todos os cidadãos, facilita e acaba por garantir exclusividade do acesso a determinado estado. Ao invés de investir neste patrimônio – ou seja, defendê-lo, preservá-lo e valorizá-lo – deixa essa tarefa aos seus artesãos. Cabe a eles adequarem-se ao regulamento sem nenhum apoio, tendo que injetar dinheiro em obras onerosas que lhes permitam vender seu produto, concorrendo todos entre si no mercado mineiro, incapaz de consumir toda a oferta. O ganho desses manufatureiros só pode ser encontrado além das fronteiras do estado, atendendo a demanda dentro da ilegalidade, transformando um bem patrimonial em contrabando.

Contra seu próprio país mas justamente por ele, Lincoln lutou e acabou sendo assassinado por ser quem era e defender o que acreditava. Fez história e é um dos responsáveis pelo fato de que o atual presidente do seu país é negro. Enquanto isso, no Brasil, produtores e consumidores tentam alertar o Estado para que dê valor ao seu patrimônio, dentro do país e lá fora. Lutam por aqueles mesmos direitos humanos de igualdade e liberdade: que nos permitam também aquilo que é garantido ao outro e que não sejamos subjugados por uma minoria.

No vídeo abaixo o patrono da SertãoBras, Sr. Gabriel Andrade, fala um pouco sobre Lincoln e a clandestinidade do queijo canastra:

Gabriel from SerTãoBras on Vimeo. Video por Riba Castro.

 

 

Gabriel também discorre sobre Lincoln em outros textos já publicados aqui no site da SertãoBras:

Lincoln e Lula

Lincoln e Lula 2

 

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4 Comments

15/02/2013 at 16:17

Por ventura os mineiros são melhores/piores do que paulistas, cariocas, do restante dos tupiniquins espalhados pela nação? A resposa é óbvia: não.
O princípio da isonomia está expresso na nossa Carta Magna dizendo que todos somos iguais perante a lei.
Bom, quando o assunto é “lei de queijo artesanais” vemos que o restante da nação fica prejudicado: não podem comer legalmente o nosso queijo produzido em Minas.
Fiquei chateado: a Lei Estadual 20.549/2012 só considera, por enquanto, como artesanal o Queijo Minas Artesanal, o Meia-Cura, Cabacinha e o Requeijão. Estão focados apenas na região da Canastra.
Esqueceram que aqui no Sul de Minas Alagoa, Itamonte, Carvalhos, Baependi, Pouso Alto são produtores de queijo artesanal também.
Muitos chamam o queijo de Alagoa como “Parmesão de Alagoa”, devido ser um Italiano (Paschoal Poppa) ter trazido a receita. Mas, é queijo artesanal de leite cru, peculiar, produzido só aqui em Alagoa, numa altitude semelhante aos prealpes suíços.
Vale a pena ler a matéria LIBERDADE TARDIA de Pedro Marques, na Revista Menu, Edição de Dezembro, que fala sobre esta questão legal do queijo e também fala sobre o nosso queijo: Queijo d’Alagoa/MG.

15/02/2013 at 16:19

Por ventura os mineiros são melhores/piores do que paulistas, cariocas, do restante dos tupiniquins espalhados pela nação? A resposa é óbvia: não.
O princípio da isonomia está expresso na nossa Carta Magna dizendo que todos somos iguais perante a lei.
Bom, quando o assunto é “lei de queijo artesanais” vemos que o restante da nação fica prejudicado: não podem comer legalmente o nosso queijo produzido em Minas.
Fiquei chateado: a Lei Estadual 20.549/2012 só considera, por enquanto, como artesanal o Queijo Minas Artesanal, o Meia-Cura, Cabacinha e o Requeijão. Estão focados apenas na região da Canastra.
Esqueceram que aqui no Sul de Minas Alagoa, Itamonte, Carvalhos, Baependi, Pouso Alto são produtores de queijo artesanal também.
Muitos chamam o queijo de Alagoa como “Parmesão de Alagoa”, devido ser um Italiano (Paschoal Poppa) ter trazido a receita. Mas, é queijo artesanal de leite cru, peculiar, produzido só aqui em Alagoa, numa altitude semelhante aos prealpes suíços.
Vale a pena ler a matéria LIBERDADE TARDIA de Pedro Marques, na Revista Menu, Edição de Dezembro, que fala sobre esta questão legal do queijo e também fala sobre o nosso queijo: Queijo d’Alagoa/MG.

João Renato
17/03/2013 at 17:45

As leis existentes neste Estado de Minas, dito como Estado de VANGUARDA, são leis exdruxúlas, pois a educação neste Estado paga pouco mais de mil Reais a um Professor do Curso Primário……e os deputados que fazem as leis reajustaram o seu salário para mais de 50.000, fora as mutretas. Só em época de eleições, estas aves de rapina aparecem. As leis são feitas em benefício próprio deles. O povo sem uma educação básica é manipulado por eles, e não consegue saber o que é seu direito, e que estes deputados deveriam era trabalhar e não manipular !!!
A verdade é que o povo não tem representantes a sua altura na Camara e no senado, pois os honestos se omitem ou sào coniventes com com estes Abutres !!!!

rodrigo souza
03/09/2016 at 10:26

ola tem algum site para venda?

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