Artigo publicado em 29/9/2011
Juliana Dias, para Malagueta Comunicação
Fotos e edição de imagens: Carolina Amorim
Sexta-feira (30) é dia de estreia para cinéfilos gastrônomos. O documentário “O Mineiro e o Queijo”, de Helvécio Ratton, entra em cartaz no Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador, Curitiba, Ceará e São Paulo. Filmado nas regiões do Serro, Serra da Canastra e Alto Paranaíba, em Minas Gerais, o filme traz a palavra de produtores, comerciantes, cientistas e atravessadores, num amplo painel sobre o tradicional queijo minas, produzido com leite cru.
Em 2008, o modo artesanal de preparo foi registrado como Patrimônio Imaterial Brasileiro, pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Nacional). Foi este reconhecimento que estimulou o processo criativo e de pesquisas de Ratton, em parceria com o roteirista e colunista de gastronomia Rusty Marcellini. Foram três anos para a finalizar o documentário. “O queijo sempre fez parte da minha vida”, explica o diretor. O tombamento reavivou em Ratton a curiosidade sobre a história e a tradição desta iguaria típica de seu Estado.
A dupla logo percebeu que a questão do queijo ia muito além de sua tradição, passando por um curioso debate que girava em torno de uma polêmica contradição entre as legislações mineira e federal acerca do tempo de maturação do queijo. Uma contradição que impede que o queijo minas artesanal seja comercializado além das fronteiras de seu estado de origem.
Mesmo com o registro do IPHAN, o produto não tem autorização federal para ser comercializado no país. O filme investiga a estranha situação dos queijos produzidos artesanalmente nas três regiões há mais de 300 anos.
No século XVIII, aventureiros portugueses em busca de ouro levaram para a região das minas a arte do queijo. Trava-se de uma forma de conservar o leite e, à medida que estes exploradores percorriam novas áreas, a produção se espalhava por Minas Gerais, adaptando-se bem aos climas serranos.
Em função de uma lei federal de 1952, de inspiração norte-americana, o minas artesanal enfrenta um grave obstáculo: sua venda é proibida para outros estados brasileiros, o que provoca impactos econômicos e sociais significativos sobre os pequenos produtores. Hoje, o queijo minas é produzido por 30 mil famílias.
Para estabelecer um amplo painel acerca da situação, Ratton percebeu que precisaria discutir o tema não apenas com produtores, mas também com comerciantes, consumidores, técnicos, professores e até mesmo com atravessadores. E esta decisão, claro, implicou em ampliar radicalmente as pesquisas e o enfoque do documentário.
“O roteiro, que era cultural e histórico, ampliou o olhar para o enfoque econômico e social”, explica o documentarista. Segundo ele, o cinema cumpre a função política e social, além da estética. “É uma linguagem que faz pensar, refletir, prestar atenção em situações desconhecidas. Ao trazer informação, a população tem a chance de modificar o mundo a sua volta. Afinal, somos o que comemos”, completa.
Ratton que já dirigiu os documentários “Em Nome da Razão” (1980), “Menino Maluquinho” (1995) e “Batismo de Sangue” (2007), avalia que o cinema brasileiro está ampliando a produção de filmes sobre alimentação e gastronomia por conta das questões políticas, sociais e econômicas implícitas na produção e consumo de alimentos.
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