De fato, seria querer demais de um carioca ou de um nordestino dominar a diferença dessas sutilezas. A maioria dos queijos de Minas seguem a mesma receita e são da mesma família “massa prensada crua” além de terem praticamente o mesmo formato. É preciso educar os consumidores.
“Sabemos que os desafios das IGs, no Brasil como um todo, giram em torno da necessidade de maior organização dos produtores e de educar o mercado consumidor. É preciso efetivar o uso do selo para rastreabilidade e incorporar as inovações pedidas pelos clientes, como os queijos mofados. Ainda não sabemos como essas técnicas de cura seriam enquadrados na IG, se com outro nome ou com sobrenome” resumiu Ricardo.
Durante a mesa redonda “Os desafios da Indicação Geográfica: Canastra, tradição x Inovação” debateu-se o problema que o queijo canastra, enquanto definido na IG, não pode ser vendido nem fresco nem mofado.
O principal problema dos produtores na Canastra nem é o mofo. É não ter uma legislação adequada para vender seus produtos para turistas, por exemplo, que querem comprar queijo fresco ou com menos de 22 dias, como exigido na legislação.
Para identificar as diferenças sensoriais entre os queijos mineiros das regiões reconhecidas, Diogo Carvalho do MAPA manifestou o interesse do ministério em apoiar a criação de um curso com módulos de 6 meses para produtores e técnicos reconhecerem a identidade de cada queijo. O advogado Fabrício Welge explicou as diferenças de indicação geográfica e denominação de origem e Patrícia do INPI falou a marca coletiva da Aprocan (região do queijo canastra), associada à IG.
Outros temas tratados no seminário
No primeiro dia, a discussão mais quente foi em torno da alimentação animal. O professor de zootecnia Mauricio Scoton Igarasi da Uniube (Uberaba) comparou os métodos de silagem e feno como alternativas para alimentação no inverno. O silo é muito mais em conta que o feno, mas os produtores de queijo explicaram ao professor as desvantagens do uso da silagem, que representa não só maior risco microbiológico como também afeta as características sensoriais do queijo.. “– Ele entendeu, disse que estava aprendendo com a gente“, disse João Leite, produtor do Roça da Cidade. “– Maurício se prontificou a fazer pesquisas para verificar a questão sensorial e prometeu nos apresentar novas tecnologias para alimentar o gado no inverno, foi a palestra que mais houve debate, foi excepcional” resumiu João.
O técnico do IMA Maurício Teixeira apresentou o novo programa de certificação do leite. “- O programa é bom, mas as exigências representam mais custos com instalações, higiene, cuidados com os animais, cuidados sócio-ambientais… isso tudo vai ser pago pelo produtor que provavelmente não será ressarcido no preço final do leite” avaliou João Leite. “Então a nossa dúvida é, como o produtor pode agregar valor a um leite vendido para a indústria? E nós, produtores que transformamos o leite teremos ainda mais regras para obedecer?” questionou ele. A certificação será um dos pontos exigidos para que o produtor de queijo obtenha o registro para comercialização dos seus produtos.
Dando seguimento…
“Temos mais dúvidas do que respostas” confessou Ricardo Boscaro. “Mas a discussão não se encerrou aqui, vamos continuar a ver problemas internos da Canastra e realizar o mesmo seminário no Serro em breve” prometeu ele. Outras questões a serem abordadas são a possível adoção de um selo único para todas as IGs, como acontece na União Européia e o papel dos comerciantes e chefs que fazem a conexão com o consumidor final. “- Eu acho que o processo é lento, mas já avançamos” completou.