Véronique Richez-Lerouge, jornalista e ativista em defesa dos queijos de leite cru, lança o livro La vache qui pleure (A vaca que chora), que denúncia com argumentos científicos os perigos do leite pasteurizado e esterilizado (UHT) e suas conseqüências para a saúde da humanidade. A obra estará à venda na França dia 25 de fevereiro de 2016.
Resenha de Emmanuel Amar, tradução Débora Pereira
O leite, bebida natural por excelência, de leite agora só tem o nome. Pois é o leite industrial que monopoliza nossos supermercados. O chamado leite UHT esterilizado já perdeu a maior parte de seu potencial nutritivo e ainda por cima tem sido considerado um produto alérgico.
Sob o pretexto de um higienismo cego, o aquecimento relâmpago do leite (dois segundos a 160°C) tem conseqüências para a saúde, e especialmente prejudica a digestão, segundo pesquisas científicas. O leite aquecido dessa forma fica bastante alterado. A reação de Maillard altera a estrutura das proteínas, reduzindo a sua assimilação. Citando pesquisas científicas, a autora revela que uma quebra do cálcio ocorre durante a ação de tratamentos térmicos, ao contrário do que costumam afirmar as instituições sanitárias.
A deterioração de certas enzimas que afetam o sistema imunológico é um dos fatores que provocam intolerância e alergia ao leite de vaca. Esse distúrbio afeta aproximadamente 7% dos lactentes e crianças cada vez mais jovens. Para completar, a explosão de moléculas de gordura em micro-moléculas (para não formarem nata) é o resultado de uma outra prática da indústria chamado homogeneização: essas micro-moléculas de gordura entram muito mais facilmente no sangue e aumentam o risco de colesterol.
Ao contrário de tudo o que foi dito há 60 anos, o leite industrial esterilizado é mais tóxico do que o leite cru. Este, embora marginalizado, fortalece o sistema imunológico das crianças e dos fetos. Um estudo recente demonstra que o leite natural ajuda a ter uma saúde de ferro, graças à microflora microbiana ativa.
A autora realizou, em laboratório certificado para análises microbiológicas, cerca de quinze testes com amostras diferentes de leite e comparou os resultados. Eles revelaram um desaparecimento total da microflora probiótica e mostraram que o leite pasteurizado vendido nas geladeiras dos supermercados, junto com outros alimentos frescos, não é diferente dos leites UHT. Ou seja, eles não estão mais vivos.
Além disso, os leites vendidos para consumo já são produtos processados, quer dizer que já tiveram retiradas suas proteínas e gorduras. Já os leites integrais são leites desnatados que tiveram as gorduras retiradas… e depois re-inseridas.
Esses componentes extraídos do leite são vendidos para a fabricação de produtos mais lucrativos e isso é chamado de “valorização”. Em vez dos consumidores desfrutarem da qualidade de produto intacto, as indústrias lácticas estão mais preocupadas em lucrar. Assim, um litro de leite pode ser enriquecido duas vezes e seu preço vale mais. Por isso, uma grande parte da coleta de leite é desviada para fins que não têm nenhuma relação com sua origem. Misturados pela indústria, que não costuma diferenciar origem nem qualidade, os leites são “desmembrados” com as mesmas técnicas da indústria do petróleo, ou seja, seus ingredientes são divididos (em pó, gordura do leite, caseína, soro de leite …) e vendidos para as indústrias de alimentos, de cosméticos, têxtil, química, automotiva e farmacêutica. Atualmente, os estoques de leite em pó são gigantescos. Este chamado “ouro branco” é um combustível muito rentável, pode viajar longas distância e durar meses. É o produto perfeito para os especuladores e para a exportação.
A indústria leiteira deseja que todos os seres humanos bebam esse leite, por todos os meios e sob qualquer forma: líquido, sólido, pó, flocos … As prateleiras dos supermercados estão cheias de produtos lácteos inúteis feitos de leite em pó, sem explicitar essa informação. Aditivos, conservantes, acidulantes e antibióticos despistam a pobreza do leite industrial enquanto alimento.
Este pó de leite anônimo, sem origem definida, está sendo exportado por quase todos os países da Europa e está presente em quase todos os produtos lácteos industriais.
Mesmo aqueles famosos iogurtes naturais cheios de qualidades para intestino são feitos desse pó. Eles são re-enriquecidos de proteína, lactose, cálcio e bactérias probióticas, como bifidus. Este último é suspeito de promover a obesidade. Os cientistas estão a soar o alarme, mas os fabricantes não estão ouvindo.
Nos meios de comunicação vemos uma batalha: de um lado, a indústria de laticínios, que oferece um produto alérgico e mutante, do outro, grupos que começam a exercer uma pressão anti-leite, exercendo lobby ativo para aumentar o consumo de bebidas vegetais, muitas vezes derivadas da soja. Isso é uma alternativa séria? Não. Os sucos de vegetais não são adaptados à nutrição das crianças, muitos são considerados perigosos e alérgicos. E o pior, eles são produto de um modelo de agricultura devastador para o meio ambiente.
Então, o que vamos beber? A autora demonstra, apoiada em análises rigorosas, que o leite cru é uma fonte de benefícios para a saúde humana. Possui cálcio e ômega-3 e sobretudo contém uma microflora ativa.
Atualmente na França, apenas 3% das propriedades agrícolas conseguem escapar das indústrias de laticínios. Mas, por quanto tempo? Os leites vivos são uma maravilha para a saúde. Cada dia mais difíceis de encontrar, sua venda desaparece gradualmente. Com o fim das quotas leiteiras na Europa desde 2015, a crise leiteira agrava a situação dos pequenos e médios produtores, prenuncia seu desaparecimento em favor do surgimento de fazendas industriais no modo americano ou alemão.
Ainda há tempo para reagir!
1 Comentários
estou interessada em conhecer a fabricação e os queijos