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Eta queijo bão!!!!!

Nina Horta, Blogs da Folha

 Publicação em 3 de outubro de 2011

 Assisti o documentário”O mineiro e o queijo”, de 72 min, 2011,  de Helvécio Ratton. Todos os jornais já falaram do filme, da incoerência entre a legislação federal e a estadual. O queijo feito em Minas com leite cru não pode ser vendido em outros estados do Brasil, nem fora, para o estrangeiro. E por isso comemos queijos artesanais franceses, caríssimos, pois lá conseguiram ganhar a batalha contra as leis ligadas ao queijo pasteurizado, ao entenderem o valor do produto artesanal.

A impressão que dá é de um nó quase cego. De um lado os queijeiros, com suas microqueijarias, muito limpas, tentando obedecer a todas as leis de higiene e do outro lado o poder público entravado em burocracia e falta de pesquisa, alheio à modernidade e à necessidade de criar uma lei que não deixe morrer este artesanato.

O próprio filme pode e vai contribuir para que as pessoas se interessem pelo assunto que nos passa desapercebido enquanto comemos queijos brancos mineiros com sabor padronizado. Os mineiros, com sua verve também chamam a atenção para o seu fraco poder de marketing ou de lobby. Sabem fazer o queijo, querem fazer o queijo, mas o resto…que preguiça.

O engraçado é que quando um mineiro vem me visitar traz um queijo daqueles contrabandeado na mala, mineiro quer mais é comer queijo bom. Uma das pessoas entrevistadas se intriga- “Pois não é que todo mineiro sempre comeu queijo e não me consta que nenhum tenha morrido por causa disso.” E dá aquela risadinha de Carlos Drummond de Andrade, de um lado só, tampando a boca.

As mulheres se parecem todas com Adélia Prado, são poetas na sua língua mineira e nos seus queijos.

Quem assiste a esses documentários franceses clamando por seus terroirs vai sentir a semelhança. Não são franceses, mas tem o mesmo linguajar peculiar, o mesmo amor à profissão, quase paixão, a mesma sabedoria e savoir faire.  Descrevem o terroir assim: “o queijo da gente nunca é igual. Aprendemos com as mesmas pessoas, usamos o leite de vacas semelhantes,  um queijeiro é amigo do outro, mas às vezes o lugar tem uma árvore a mais que dá sombra na queijaria, ou um capim mais gorduroso, ou a mão mesmo de quem faz é mais quente ou mais fria e o queijo sai diferente. E muito bom.  Sem comparação com queijo industrializado”

E é bonito ver aqueles morros ondeantes, as estradas de terra, a galinhada solta, as casinhas toscas mas escrupulosamente limpas. E o cenário lindo é Minas e somos capazes de perceber que aquilo é terra e gente brasileira onde quer que estivermos. Como diz um dos entrevistados. Estes queijos não são bons só para a barriga, são bons para dar identidade, permitir que as pessoas continuem fixadas nos lugares onde nasceram e trabalham, sustentando dignamente a família. É bom pra depressão, fazer queijo bom ou qualquer coisa boa com as mãos põe a tristeza a fugir.

O lucro deles é pequeno, às vezes nenhum. É uma atividade quase que amorosa esta profissão que vem do tataravô, morando nas pirambeiras e trazendo o queijo para vender na costas dos burros.

Poderiam vender o leite, dá menos trabalho e mais lucro. A faina do queijo é coisa de dia inteiro, mantém a fazenda viva, (dizem eles), fazenda só de leite é uma sem graceza só, comentam eles. Nada acontece, só tirar aquele leite de manhã e pronto.

O processo é lindo, o leite jorrando, a coagulação, a prensa e a salga. Os vendedores entendem de cada queijo já pronto, um deles mostra antes de cortar com a faca o que vai achar lá dentro. “A massa desse está soando oca, não tem buracos, está denso”, e acerta.O outro faz um barulhinho diferente vai-se ver tem mais buracos.

Enfim é todo um emaranhado de saberes que pode se perder por preguiça de…nós todos.

Leia o artigo original aqui

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