Patrono da SerTãoBras e ativista pela legalização do queijo de leite cru, Gabriel Andrade, 86 anos, agora também é repórter. Ele esteve no lançamento do projeto Origem Minas, promovido pelo governo mineiro e que reuniu representantes do Sebrae, da Faemg e produtores agrícolas.
O objetivo do programa é agregar identidade cultural aos produtos mineiros para vender mais na copa de 2014. Gabriel entrevistou primeiro o Secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, Elmiro Nascimento:
Gabriel: Como nós da SerTãoBras, juntamente com a Secretaria de Agricultura e o Sebrae, vamos salvar o queijo mineiro dessa legislação absurda?
Elmiro: Primeiro eu gostaria de agradecer por estar sendo entrevistado por uma pessoa tão ilustre, tão nobre como o dr. Gabriel. Mas este queijo, a história do queijo Minas é algo muito tradicional, que tem o seu passado e sua história e o governador está fazendo um esforço grande, junto à Secretaria de Agricultura, para que possamos reverter esse quadro em relação ao Ministério da Agricultura em si. Nós já estivemos várias vezes lá e conversamos inclusive pessoalmente com o Ministro e a promessa é que o mais rápido possível vai se regularizar a normativa que foi assinada por ele em Uberaba, mas que está tendo um entrave em relação à parte burocrática em si… Eles já compreendem que este prazo de maturação do queijo [de 60 dias] é um negócio que não é o ‘cientificamente’, ou seja, não tem nada a ver com a comprovação da sanidade do queijo em si, principalmente um dos alimentos mais saudáveis que temos nesse pais.
Gabriel: Muito obrigado pela sua atenção à nossa entrevista e vamos lutar juntos para fazer crescer este produto maravilhoso.
Depois de entrevistar o ‘pessoal do contra’, foi entrevistado João Leite, produtor de queijo da serra da Canastra, segundo Gabriel, a “vítima do governo”. João Leite afirmou que é preciso a união da sociedade civil, movimentos sociais e a alta gastronomia para conseguir bons resultados para o queijo. Ele disse não entender o que “está por trás de alguns técnicos do Ministério da Agricultura que continuam a insistir na proibição da produção de queijo de leite cru artesanal no Brasil”.
O diretor técnico do Sebrae em Minas, Luiz Márcio Pereira, falou sobre a importância de aliar o queijo ao seu território.
Gabriel: Como vamos valorizar o nosso queijo mineiro, produto artesanal, mas que é controvertido por problemas com a legislação? Gostaria de ouvir como o senhor encara isso.
Luiz Márcio: Bom, sr. Gabriel, nós vamos trabalhar no Sebrae primeiro com cada um destes produtores, a qualidade do produto, trabalhar dentro da porteira. Num segundo momento, vamos trabalhar o que acontece fora da porteira da fazenda, esse é o nosso principal objetivo, como é que divulga. Trabalhar território, contar a história da região é contar a história do queijo. A vaca vem da Índia, o capim vem da África, mas o queijo só nós sabemos fazer, ele tem o nosso gosto e isso é cultura. Se não souber contar a história desse produto ele não vende, a história é que vende.
Gabriel: E nosso queijo tem um adversário muito poderoso, que é a grande indústria, o queijo incomoda a grande indústria porque dá liberdade ao pequeno produtor de ser um concorrente, em vez de ser um colono fiel do industrial. Então é um inimigo super poderoso que o queijo enfrenta, mas nós vamos lutar e vencer isso, porque a qualidade, a sua importância social é muito grande.
Luiz Márcio: É a grande oportunidade que temos de sermos sustentáveis, de ter inclusão no mundo.
Gabriel: De exercitar a boa criatividade.
Luiz Márcio: Esse é o grande desafio.
Gabriel: Vamos juntar as nossas forças e trabalhar muito por isso.