Eduardo Tristão Girão – EM Cultura
Madrid – Minas Gerais estreou com o pé direito na abertura do congresso de gastronomia Madrid Fusión, ontem de manhã, na capital espanhola. Palestra inspirada – a cargo de Ivo Faria e Rafael Cardoso, chefs dos restaurantes belo-horizontinos Vecchio Sogno e Atlantico, respectivamente – revelou à plateia, recheada de cozinheiros estrelados e autoridades, o contexto histórico que ajuda a compreender a posição de destaque do estado na cena brasileira. A riqueza alimentar dos mineiros, defendeu a dupla, tem raízes no conhecimento dos tropeiros errantes e das famílias que formaram as primeiras vilas do ouro.
Apostando alto na estética para cativar o público, Rafael Cardoso apresentou engenhosa combinação de ingredientes para evocar a história dos bandeirantes que desbravaram Minas Garais em busca do precioso metal, a partir do século 17. Passado em cacau em pó e com uma pequena folha de ouro grudada na superfície, o lombo de porco surgiu como pepita de minério de ferro sobre o leito arenoso de um rio – na verdade, formado pela boa e velha paçoca de carne serenada. Vale lembrar: este ano, o Madrid Fusión homenageia Minas Gerais – fato inédito, pois apenas países haviam merecido essa honra.
Referência no uso de ingredientes mineiros na cozinha internacional, o chef Ivo Faria se baseou em sua larga experiência para enobrecer o umbigo de bananeira e o jiló, que chamou de “primo pobre da berinjela”. Refogando linguiça com umbigo de bananeira, ele criou recheio para o jiló, que surgiu empanado na farinha de torresmo, frito e colocado sobre angu mole encorpado com queijo minas.
Um belo vídeo deu suporte à apresentação da dupla de chefs brasileiros e o público teve a oportunidade de provar a farofa de içá, distribuída em pequenos copinhos.
No primeiro dia do evento gastronômico, novos chefs se revezaram com nomes consagrados mundialmente para apresentar o cenário de tendências e discussões que transformou o Madrid Fusión em oportunidade para riquíssimo intercâmbio de informações. Nesta edição, destacam-se nomes de jovens chefs, como Juan Manuel Barrientos (El Cielo, da Colômbia) e Lorenzo Corgo (El Coq, Itália), em contraste com veteranos como Quique Dacosta (Quique Dacosta, da Espanha) e Pascal Barbot (L’Astrance, da França).
* O repórter viajou a convite do governo de Minas Gerais
O mercado de Adrià
Embora só o irmão, Albert, integre a programação do Madrid Fusión, o chef catalão Ferran Adrià não deixou de ser assunto no congresso. Tudo graças à repercussão na mídia espanhola do recente anúncio da participação de Ferran na criação de um mercado de produtos tipicamente regionais em sua cidade natal, L’Hospitalet de Llobregat, vizinha a Barcelona. Uma antiga fábrica têxtil de 15 mil metros quadrados será reformada. A iniciativa reúne o governo espanhol e o setor privado. Entretanto, ainda é dúvida a abertura de outro restaurante pelo famoso chef.
De olho no planeta
A divulgação da gastronomia mineira no congresso Madrid Fusión, projeto estimado em R$ 2 milhões, será a primeira de uma série de ações programada pelo governo do estado com o objetivo de projetar a imagem de Minas Gerais no exterior. Este ano, estão previstos o Encontro Brasil/Portugal (com presença de chefes de Estado da Comunidade de Países de Língua Portuguesa), a reunião plenária da Organização Internacional do Café (marcando os 50 anos de sua fundação) e a 16ª Reunião do Comitê de Cooperação Econômica Brasil/Japão.
A informação é do governador Antonio Anastasia, que não foi à capital espanhola apenas para acompanhar o Madrid Fusión. Ele cumpre agenda oficial planejada para divulgar o estado, estreitar relações políticas e empresariais e gerar negócios. A pauta de hoje, entre outros compromissos, prevê reunião com o secretário para Cooperação Internacional e América Latina do governo espanhol, Jesús Manuel Gracia Aldaz, e audiência com o príncipe das Astúrias, Felipe de Bourbon. Anastasia se encontrará também com integrantes da Confederação Espanhola de Organizações Empresariais.
“Todos sabemos que Minas tem na gastronomia um de seus valores mais importantes. Reconhecida como especial, ela é sentida assim não só por brasileiros, mas também por estrangeiros que nos visitam. Então, decidimos investir muito na imagem de nosso estado, ainda pouco conhecido se comparado a outras unidades da Federação”, declarou o governador em entrevista coletiva durante a abertura do Madrid Fusión.
A ação na capital espanhola reuniu o estado e as federações do Comércio (Fecomércio Minas), das Indústrias (Fiemg) e da Agricultura e Pecuária (Faemg), além do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae). “É um investimento expressivo. O governo gastou cerca de R$ 150 mil e os parceiros privados complementaram a diferença”, informou Anastasia.
A expectativa é de que Minas Gerais experimente algo semelhante ao que ocorreu com o Peru. Recentemente, a gastronomia peruana se tornou objeto de interesse mundial. “O Peru tinha cozinha de altíssima qualidade, mas pouco conhecida. Agora, restaurantes vêm sendo abertos e se especializando. É isso que queremos para Minas a médio prazo. As coisas, claro, não se dão do dia para a noite. Nosso objetivo é que esse conhecimento se desdobre em valor subjetivo da riqueza patrimonial de Minas”, completa Anastasia.
QUEIJO
Para o governador, a ampla exposição conferida pelo Madrid Fusión pode beneficiar a comercialização do queijo de minas de leite cru dentro do próprio Brasil. Atualmente, a legislação dificulta a circulação do produto, típico da cultura mineira.
“Vamos nos esforçar à exaustão para demonstrar que é quase patético termos a venda clandestina de queijos mineiros em São Paulo, por exemplo. Isso se deve a uma teimosia, digamos assim, do Ministério da Agricultura”, concluiu Anastasia.
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