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O que fizemos no Cheese, o maior evento do queijo no mundo na Itália

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Por Débora Pereira

Realizado a cada dois anos em Bra, na Itália, pela Slow Food e já em sua décima edição, o Cheese reuniu produtores artesanais, curadores, comerciantes, pastores, instituições e pesquisadores, além de uma multidão de curiosos e amantes de queijos. O evento tem entrada gratuita e o programa incluiu venda de queijos, palestras, mesas redondas, degustações dirigidas, lançamentos de livros e manifestações culturais.

Com a generosidade da Maison Mons de nos ceder uma mesa em seu stand para os queijos brasileiros, nós levamos queijos de 19 origens diferentes do Brasil: Araxá, Canastra, Campo das Vertentes, Serro, São Paulo, Nordeste e Rio Grande do Sul. . Participaram da nossa mesa as produtores Marly Leite (Fazenda Caxambu, Araxá-MG), Carolina Vilhena e Marizete Pereira (Fazenda Supresa, Bofete-SP) e Thiago Candido, um brasileiro que mora na Itália e trabalhou como voluntário fazendo traduções.

Os queijos foram expostos, degustados e colocados à venda nos três primeiros dias do Cheese (sexta, sábado e domingo), até que fomos constrangidas a nos retirar por falta de carimbo… (veja o episódio completo aqui)

Antes de juntar os queijos, só deu tempo de fazer a última venda para um comerciante da Bélgica, Sebastien, que levou 5 tipos de queijo para fazer uma degustação de produtos brasileiros em Liège, inclusive o exótico Pico Alto, queijo de ovelha meio-curado em folha de repolho, dos produtores Ricardo e Clara de São Paulo.

Ao lado da nossa mesa, jovens produtores suíços da marca Jumi expunham seus queijos feitos com maconha legalizada e nota fiscal. Eles ainda levaram a planta e fizeram a decoração para expor os queijos. Maconha pode, queijo brasileiro não pode.

Cheese Bra 2017

Mas depois do leite derramado, a nossa saída foi ir aproveitar a feira (fotos abaixo), o que foi sensacional. Uma das boas descobertas foi o “queijo natural” defendido pelo canadense David Asher.

Cheese Bra Slow Food 2017

Mesa redonda para discutir globalmente o leite cru

A mesa redonda de abertura do Cheese foi moderada pelos fundadores da Slow Food Piero Sardo e Carlos Petrini, com a presença de especialistas de 15 países (Austrália, Brasil, Cuba, França, Irlanda, Itália, Noruega, África do Sul, Suécia, Turquia, Reino unido, EUA e UE). O objetivo foi lançar um grupo internacional de  reflexões em relação ao leite cru. Cada um contou com cinco minutos e algumas imagens para mostrar qual a situação atual em seu país, quais os grandes desafios para o futuro e quais iniciativas estão sendo tomadas para tomar. 

Ao centro, Piero Sardo fundador da Slow Food, rodeado de representantes do países convidados.

Convidada para representar o Brasil, eu mostrei as duas imagens que considero o espelho do queijo artesanal brasileiro. Primeiro, a foto do caminhão de 13 toneladas de queijos enterrados vivos na Serra da Canastra, que foi compartilhada mais de 17 mil vezes no Facebook. A fiscal do Mapa que assinou a sentença foi afastada do cargo recentemente pela operação carne fraca. Essa imagem representa a situação atual: continuamos com caminhões e caminhões de queijos jogados fora toda semana no Brasil. A segunda imagem é o queijo da família de Marly Leite, de Araxá, com medalhas ouro e super ouro na França, embora continue sendo um queijo clandestino em São Paulo e nas feiras internacionais que participa. Veja abaixo os seis slides da apresentação:

Contei que ao mesmo tempo que assistimos surgir no Brasil uma elite queijeira que vende seus queijos nas capitais do Brasil mais caros que na Europa, uma grande quantidade de pequenos produtores continua excluída e punida pelas leis severas para a agricultura familiar. As iniciativas tomadas pela SerTãoBras estão sendo educativas, como o lançamento do Guia de Cura de Queijos em julho e formações em estados diferentes para ensinar a curar queijos com a presença de professores franceses. Contei da minha facilidade como jornalista de uma revista de queijos na França para fazer contatos com franceses, pedir ajuda e passar informações da França para o Brasil.

E que esses contatos facilitaram a presença dos queijos brasileiros nos concursos franceses, o que nos deu um reconhecimento internacional. Contei também o que o governo de Minas e a Faemg têm feito para seus produtores, como ajuda para a viagem internacional em junho na França, o que faz Minas sair na frente dos outros estados. E por fim mostrei os queijos inovadores paulistas da Caminhos do Queijo  e os queijos nordestinos que estão diversificando a gama queijeira brasileira.

 

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