por Roberto Rodrigues, da Folha de São Paulo (27/9/2012)
Da porteira para dentro, a lição foi feita: a produção de grãos no Brasil subiu 178% em 20 anos com aumento da produtividade, mantendo a cobertura vegetal
Sustentabilidade é uma palavra que indica modelos de produção que se preocupam equitativamente com os temas sociais, econômicos e ambientais.
No agronegócio, a sustentabilidade é mais do que essencial, uma vez que a atividade se faz em permanente comunhão com o solo, com a água, com as plantas, com a atmosfera, a luz solar e tudo o mais que existir na natureza.
Por isso, é necessário um Código Florestal. Mas, ainda mais importante, é preciso um Código Ambiental que, além das florestas, se preocupe em estabelecer regras claras para o uso do solo e da água.
Certamente, a preocupação com a sustentabilidade desaguará em mecanismos da verificação e certificação, fatores que no futuro estarão presentes em todas as gôndolas dos supermercados, mostrando se toda a cadeia produtiva é sustentável.
A cadeia produtiva do setor agro começa na prancheta de um pesquisador científico e termina no prato do consumidor. Passa pelos insumos todos (sementes, defensivos, fertilizantes, corretivos, máquinas e equipamentos) e pelos serviços (planejamento, crédito, seguro) – tudo “antes da porteira” das fazendas.
Em seguida, vem o “dentro da porteira”, que incorpora desde o preparo do solo até a colheita. Por fim, vem o “depois da porteira”, que vai da armazenagem à distribuição, passando pela industrialização, embalagem, transporte e comercialização interna ou externa.
A troca de experiências e informações sobre o agronegócio sustentável ainda acontece pouco no Brasil. E não percebemos que o coração do agronegócio é sempre a produção realizada pelos produtores rurais, a agropecuária.
Para se ter uma dimensão da importância do tema, a soma de todas as cadeias produtivas que se relacionam com o campo é o que se convencionou chamar agronegócio, que no Brasil representa 23% do PIB nacional, gera 37% dos empregos e um saldo comercial maior do que o total do país.
Todos os setores envolvidos nas cadeias produtivas vêm aperfeiçoando seus controles e sua preocupação com a sustentabilidade. O setor rural de dentro da porteira – a produção agropecuária – já fez boa parte de sua lição de casa.
Basta citar alguns dados: nos últimos 20 anos, a área plantada com grãos no país cresceu 37%, enquanto a produção aumentou 178%. O mais interessante disso tudo é que temos hoje 51 milhões de hectares plantados com grãos: se tivéssemos a mesma produtividade de 20 anos atrás, seriam necessários mais 55 milhões de hectares para colhermos a safra deste ano.
Em outras palavras, preservamos 55 milhões de hectares, e isso não é uma promessa ou um compromisso: já está feito! O mesmo se dá com a cana-de-açúcar: se tivéssemos hoje a produtividade por hectare desta gramínea de quando começou o Proálcool, seriam necessários mais 6 milhões de hectares, alem dos 8 milhões hoje cultivados. Portanto, só grãos e cana “salvaram” 61 milhões de hectares de cerrados ou florestas do desmatamento.
Aliás, a cadeia produtiva da cana emite apenas 11% do CO2 que a gasolina emite, de modo que a sustentabilidade deste produto ajuda a mitigar o aquecimento global.
Temos ainda 7 milhões de hectares de florestas plantadas, uma das maiores áreas florestadas do mundo. E nosso território ainda tem 61% de cobertura vegetal nativa!
Portanto, o Brasil fez significativa parte de sua lição de casa no que tange à sustentabilidade do seu agronegócio. Claro que a demanda mundial por alimentos, energia e fibras determinada pelo crescimento das populações e da renda nos levará a ocupar áreas hoje florestadas, sobretudo com cerrado. E faremos isso com a melhor tecnologia tropical do planeta, e com a mais perfeita sustentabilidade.
Basta, para isso, uma estratégia adequada, e o Brasil seguirá o líder do agronegócio sustentável.
ROBERTO RODRIGUES, 69, é coordenador do Centro de Agronegócio da FGV e embaixador da FAO para o Ano Internacional do Cooperativismo. Foi ministro da Agricultura (governo Lula)