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Você sabe de onde vêm seus alimentos?

do canal coletivoaura, do Youtube (postado 27/9/2012)

“Todos os sábados, junto aos primeiros feixes de luz do vagaroso Sol, chegam à Avenida José Bonifácio dezenas de gentes de mãos sujas. São de uma cor e de um cheiro de terra que vêm de diferentes cidades do Rio Grande do Sul. Elas puxam cordas, esticam lonas, montam estacas de ferro ou madeira e empilham caixas coloridas. Aqui, uma vez por semana, encontram-se com outras mãos, sem calos e fedendo a sabonete, trazendo o alimento mais limpo no qual já puderam tocar.

"Quando o agricultor escolhe o que plantar, ele escolhe o que acha que há de melhor"

Há 22 anos, a Feira dos Agricultores Ecologistas (FAE) de Porto Alegre preenche o canteiro central na pequena rua em frente ao Parque Farroupilha. Na famosa Rua do Brique, Rua do Colégio Militar, Rua da Redenção, as manhãs de sábado recebem desconhecidas beldroegas, ora-pró-nóbis, kinos, juçaras, araçás e tantas outras. Além de milhares de outros alimentos distribuídos em 41 bancas permanentes e oriundos de uma produção livre de agrotóxicos e insumos químicos.

Porto Alegre, em 16 de outubro de 1989, foi a primeira cidade brasileira a realizar uma feira ecológica após o boom da Revolução Verde nos anos 1970. A iniciativa foi da Cooperativa Coolmeia, marcando o Dia Mundial da Alimentação. José Lutzenberger, Sebastião Pinheiro, Jacques Saldanha, Nélson Diehl, Glaci Campos Alves e outros nomes estão entre os fundadores da Feira. Hoje, 149 famílias divulgam sua prática agroecológica e, mais do que isso, o trabalho coletivo da Associação dos Agricultores Ecologistas Solidários do RS, temas tão caros ao pensamento acerca da biodiversidade.

A variedade dos alimentos oferecidos para os frequentadores da Feira supreende: quantas vezes pensamos nas outras possibilidades de arroz para além do branco e do integral? O agricultor da Associação Biodinâmica do Sul, Juarez Felipi Pereira, 55 anos, assusta. O “Seu Juarez dos arrozes” traz a Porto Alegre arroz cateto, aromático, agulhão, preto, vermelho e moti. Hoje guardião de sementes, Seu Juarez começou praticando a agricultura convencional, até perceber que estava contribuindo para o empobrecimento da biodiversidade, além de perder pontos na própria saúde.

Quando o agricultor escolhe o que plantar, ele escolhe o que acha que há de melhor, afirma. Seu Juarez defende as “suaves misturas” que a natureza provoca, inclusive entre os 19 tipos de arroz que hoje cultiva, sem nunca ter se preocupado em purificá-los. Para ele, a sociedade, violentada pelo imperativo econômico da Revolução Verde, desconhece a variedade existente de alimentos. Conceito que a ativista ambiental indiana e doutora em física Vandana Shiva ampliaria, criando o entendimento do que chama de “monoculturas da mente”.

Certamente essa tendência de monocultura leva a um posicionamento centrador, que bloqueia o avanço de um conhecimento maior sobre tipos de alimentos ainda desconhecidos. Esse comportamento que a visão positiva traz a qualquer conhecimento do mundo exclui possibilidades outras, ou seja, para “fora do caminho” pragmático da eficiência, que não sirvam para aplicação na lógica mecânica do sistema financeiro.

Seu Juarez adiciona: quando leva seu arroz para a Feira, o pagamento ainda é outro. O amor e a gratidão do “cidadão urbano” (termo que preferiu em vez de “consumidor”) para com aquele que produziu o alimento de forma harmoniosa volta através das mãos do agricultor.

– Esse amor que eu recebo na rua eu planto junto, eu levo para a terra.”
Extraído do texto “A importância das mãos ” de Anelise de Carli

A feira acontece aos sábados, das 7h às 13h, na rua José Bonifácio.

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2 Comentários

Luiz Fernando C. da Silva
28/09/2012 a 17:58

Senhores

Minha dúvida é: será que produtos sem agrotóxicos conseguem alimentar a todos?

Em que pese ser consumidor desses produtos, aqui em Brasília temos a feira de Malunga, penso que os mesmos estão reservados à elite não só pelo preço, são mais caros que aqueles encontrados em supermercados, mas também porque não conseguem suprir a demanda.

Aproveitando a mensagem pergunto: qual o processo de fabricação do queijo minas padrão? E do queijo minas frescal? Que tipo de queijo minas poderá tornar-se um queijo semi-curado e/ou curado?

E sobre os queijos de cabra e ovelha, há possibilidade de matéria sobre esses queijos?

E o queijo frescal de búfala, já à venda no mercado?
Cordialmente
Luiz

    alisson
    03/10/2012 a 08:53

    Olá Luiz, primeiramente lhe agradecemos pela mensagem.

    A SerTãoBras posiciona-se a favor da legalização do queijo de leite cru, artesanal, pois além de ser um patrimônio (reconhecido pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), sabe-se que a pasteurização do leite o descaracteriza enquanto produto original e remove qualidades presentes do leite cru, alterando-se também o sabor típico do queijo. Nossa legislação é baseada em normas americanas que desconsideram as peculiaridades de nosso modo típico de produção, indo contra a valorização cultural desse bem e ferindo o direito dos consumidores de optarem por alimentos naturais e genuínos. Infelizmente, e exatamente por essa cultura da industrialização (como a exigência da pasteurização), é muito difícil encontrar produtos orgânicos, o que também contribui para o aumento dos preços desses produtos, pois os produtores não recebem incentivos por parte do Governo.

    Sobre o modo de produção do queijo Minas artesanal, sugerimos que você veja o vídeo dos produtores Otinho e Eliane, que produzem queijos artesanais, de leite cru. O queijo Minas pode ser fresco, semi-curado ou curado, o que varia é apenas o tempo de maturação.

    Agradecemos a sugestão de matérias sobre os queijos de cabra e ovelha, embora esses não sejam muito comuns no Brasil. Você pode ver a reportagem do Paladar sobre o famoso queijo português Serra da Estrela, feito a partir de leite cru de ovelha. E vamos sim considerar a possibilidade de produzir matérias a respeito do assunto.

    Atenciosamente,
    equipe SerTãoBras

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