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50 tons de queijos brasileiros no Mundial do Queijo da França

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Queijo de casca mofada de todas as cores, queijos de cabra, queijo coalho do nordeste, queijos com recheios, passados no cacau, no óleo de pequi, recheado com nozes e damasco… “A cena do queijo brasileiro não é mais só o queijo Minas artesanal, vemos uma diversidade muito maior” observou a mestra queijeira Claudine Vigier Barthélemy, que vem ao Brasil em agosto em uma viagem da delegação da Guilde Internationale des Fromagers para conhecer de perto as nuances do nosso queijo.

Algumas mesas do concurso de queijos e produtos lácteos de Tours.
FOTO: Arnaud Sperat Czar/SerTãoBras

Em 2017, só participaram do concurso produtores de Minas Gerais e a maioria dos queijos foi o minas artesanal. Esse ano, embora as duas campeões de volume de queijo apresentado no concurso tenham sido as associações da Canastra (Aprocan) e Serro (Apaqs), com 35 e 24 peças respectivamente, teve queijo coalho, queijo de cabra do Rancho das Vertentes (ganhou ouro), queijo de búfala da Ilha de Marajó (ganhou prata), os queijos paulistas de leite de vacas Gir e Jersey da Pardinho, como o Cuesta (que ganhou super ouro) e o queijo Sinueiro de kefir da Bela Fazenda (prata). Lista completa das medalhas de brasileiros (PDF).

Os brasileiros Marcus Pinheiro, da Ilha de Marajó (esquerda) e Vanessa Alcoléa da Pardinho foram jurados no concurso. FOTO: Arnaud Sperat Czar/SerTãoBras

“Quem é o representante comercial que exporta seus queijos?” Foi a pergunta mais ouvida pelos brasileiros, feita pelos donos de lojas de queijos e distribuidores que passaram para provar. Não temos legislação que valorize esses queijos e permita vender. “E como seus queijos entraram na França?” era naturalmente a questão seguinte. Isso ainda nos constrange, entraram nas malas, escondidos.

Os brasileiros Ligia Falcone e Edson Cardoso (à esquerda) também foram jurados.
FOTO: Arnaud Sperat Czar/SerTãoBras

OURO BRANCO BRASILEIRO

“De tanto que essa legislação ainda atrapalha, ela acaba ajudando. Ela faz nascer na gente um sentimento de resistência, a coragem de atravessar fronteiras com nosso ouro branco” disse um produtor que não quis se identificar. Por outro lado, essa ação gera desconforto. Ninguém gosta de ser clandestino.

O russo brasileiro Mark Rozhanskiy observa um queijo em sua mesa.
FOTO: Arnaud Sperat Czar/SerTãoBras

A alegria dos brasileiros, chorando em frente ao comissariado do concurso na hora da publicação dos resultados, foi contagiante. “Sentimos que colaboramos para o crescimento do queijo brasileiro e isso nos motiva, sabemos que muitos produtores enfrentam exigências sanitárias muito rígidas para terem sua certificação sanitária e que o reconhecimento internacional ajuda a validar a saúde desses queijos” disse Michel Lefevre, comissário do concurso.

A mineira Marly Leite, de Sacramento, foi jurada com dois colegas suíços.
FOTO: Arnaud Sperat Czar/SerTãoBras

“Que prazer ver que vocês estão melhorando muito em técnicas de cura” disse Fabienne Effertz, jurada belga que julgou o capim canastra, primeiro queijo brasileiro a ganhar medalha na França em 2015. “ É incrível ver que vocês conservam o gosto exótico e selvagem do terroir brasileiro, de vacas que dão um excelente leite, é muito perceptível o sabor diferenciado” disse ela.

Christelle Lorho, campeã do concurso de MOF em 2019, foi homenageada com uma cesta de queijos e produtos brasileiros quando passou no stand e provou cada um dos queijos. “Nunca recebi na minha vida tanto carinho de um grupo de produtores como vocês, estou muito motivada e chegar no Brasil em agosto” disse ela.

A diversidade de sabores fervilhou com as degustações propostas no stand para os visitantes, com alimentos bem brasileiros: cachaças, caju seco como ameixa com queijo coalho artesanal do Rio Grande do Norte, mel de jandaíra com o queijo paraibano Serro do Pico, pimenta biquinho com queijo Bem Dito de Goiás …

O queijo Bem Dito, do produtor Fabiano Dias de Goiás foi comparado a um queijo reblochon, pela sua cremosidade e cobertura branca. FOTO: Arnaud Sperat Czar/SerTãoBras

“A sorte do nosso stand foi que ficamos em frente a um outro de geléias de frutas e doces artesanais em barras” disse Maricell Hussein, produtora de leite em Araxá. Ela já fez queijo há 20 anos, mas desistiu com as dificuldades da legislação. “Hoje vender nossa produção diária de 2 mil litros para a cooperativa dói no bolso, estamos mudando de ideia para começar a fabricar, fiquei muito curiosa para conhecer novos queijos em um grande salão e sair do minas tradicional, que já tem muita gente produzindo historicamente” disse ela. Depois do mundial, ela vai fazer um curso intensivo de cura “para poder escolher qual queijo quero fazer” disse Maricell.

Marcus Pinheiro (Ilha de Marajó), Rolando Barthélemy (Guilde des Fromagers), Cecília Pinheiro (Ilha de Marajó), Débora Pereira (SerTãoBras) e Michel Lefevre (comissário do concurso). FOTO: Arnaud Sperat Czar/SerTãoBras

Um dos queijos que causou mais admiração foi o da Ilha de Marajó, dos produtores Marcus e Cecília Pinheiro. “Essa tecnologia de fabricação não existe no Brasil, uma massa láctica desnatada que fermenta naturalmente por horas e em seguida é dessorada e esfarinhada como um queijo cheddar, para de novo ser enriquecida em creme e cozida, é incrível, não temos nada igual por aqui” disse Laurent Mons, diretor do centro de formação Mons para profissionais.

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