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Água doce de beber… cisterna de captar, camarada

por Robin Geld

De manhã, antes de partir, em conversa com um trabalhador que encontramos na nossa caminhada na fazenda, falamos da festa. Ele disse que ia sempre que podia. Na casa tinha a Nossa Senhora da Saúde em vários tamanhos, e para ele e a família, muitas graças havia concedido. Conversamos ainda com ele, sobre as cisternas, os assentamentos.  Ele disse que ele mesmo, gostaria de poder ter cisterna para beber água doce.

E, bem, íamos ouvindo, aos poucos, que os que moravam na Colonial, tinham sim água, mas era salobra, gostariam muito de cisterna para captar água da chuva. Água doce.

O conceito das cisternas, iríamos descobrir, despertava interesse onde quer que falássemos desta experiência. Lian já adotara uma de fibra, em SP. As águas da chuva eram usadas para molhar plantas, lavar roupa. Não só contribui no aspecto financeiro, como ambiental e social.

As cisternas nos levavam a falar de um local e povo que poucos conhecem. Ao falar em SP sobre a Sertãobras e seu projeto no semiárido, descobrimos que a assistente de uma dentista era de Janaúba, e a família tinha uma cisterna.

Constatamos que as pessoas que tinham ou estavam para receber cisternas, sentiam-se parte de sociedade, tinham cidadania, podiam sonhar maior, havia meios de pedir e ser ouvidas.

As cisternas faziam as pessoas se sentir pessoas, com voz.

As cisternas iam formando vínculos humanos. A responsabilidade em cavar o buraco inicial, o contato em reuniões dos moradores, entre si e com “autoridades”, as informações sobre sáude e meios de manter a água limpa, tudo que presenciamos foi dando corpo ao que primeiro parecia abstrações e idealizações: as cisternas além de providenciar água de beber, fomentavam o sentido de cidadania, e da camaradagem…

No semiárido de embarés despontando em flores rosa,  de umbuzeiros,  (da palavra indígena Y-mb-u que significa “árvore que dá água de beber” e que Euclides da Cunha chamou de “árvore sagrada do Sertão”), as cisternas para captação das águas das chuvas vinham, como as frutas e água de coco, dar um algo de doce ao lugar.

Não chegamos a sentir o cheiro deste semiárido nas primeiras chuvas, nem ouvir a saparia toda a coaxar, nem as águas escoando dos tellhados para as cisternas, mas logo iamos recebendo notícias, imagens dos ipês amarelos todos em flor, iríamos acompanhar o funcionamento das cisternas, ouvir de mais gente na esperança de cisterna perto de casa.

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