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Legislação dificulta escoamento de queijos no estado

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por Fabrício Oliveira, colaborador da SerTãoBras

“O queijo minas artesanal precisa urgentemente abrir as fronteiras nacionais e comparecer de forma legal, sanitária e tributária, para desafogar os comerciantes e premiar produtores com preços que permitam a continuidade desta atividade ímpar e apaixonante.”

Fabricio Oliveira

Fabrício Oliveira é comerciante de queijo e colaborador da SerTãoBras

O queijo minas artesanal ou queijo minas de leite cru, meia-cura, semi-curado, tipo Serro, Canastra, Cerrado, Alto Paranaíba ou seja lá a denominação que lhe queiram dar por conveniência, estratégia comercial ou necessidade de sobrevivência, é, de longe, o produto rural mineiro mais conhecido no Brasil, incluindo até mesmo à comparação com a cachaça e suas intermináveis denominações e origens.

Nada supera o “furadinho”, o “salgadinho”, “aquele bem molinho”, “aquele com aquela casquinha amarela” na imaginação gustativa de quem visita o nosso estado ou refere-se a ele como um modelo de tradição e manutenção de nossas origens rurais, caipiras mesmo.

E, por desfrutar desta merecida fama, o queijo tornou-se alvo principal de uma imensa quantidade de comerciantes, abrigados em grupos bem definidos, que vão desde os “queijeiros”, injustamente defenestrados atravessadores, até os grandes distribuidores, que valem-se de uma legislação confusa e falsamente moralizadora para angariar rotas e praças comerciais fora de Minas Gerais, que representam hoje o filet mignon da atividade.

Sobra aos comerciantes que atuam exclusivamente dentro dos limites do estado poucas opções para desovar uma produção crescente em volume. Belo Horizonte tornou-se o escoadouro deste excesso de produto, um verdadeiro caudal de queijos de todas as regiões do estado.

Minha trintenária experiência como comerciante do setor em Belo Horizonte me permite afirmar, sem margens para erros ou contestações: não existe lugar no mundo onde se comercialize e consuma mais queijo artesanal do que aqui, na capital de todos os mineiros.

As consequências naturais do excesso de oferta, que não pode ser distribuída em outros estados por conta da anacrônica legislação federal, são as conhecidas nos modelos clássicos da economia de mercado: queda do preço e qualidade do produto. Um desacerto mercadológico que parece interminável, ainda que por vezes abrandado pelos ciclos naturais de safra, mas nunca corrigido nas alturas convenientes aos produtores e comerciantes.

O queijo, é bem verdade, tem galgado espaços refinados em grandes redes varejistas, padarias de grande luxo e em outras prateleiras mais abonadas. Porém, apenas uma ínfima parte da produção.

Também é verdade que o Mercado Central de Belo Horizonte, este expoente templário de nossa gastronomia, desenvolve um extraordinário trabalho de qualificação, seleção e divulgação dos melhores exemplares de nossos queijos. Toda a louvação que se fizer a ele será pouca e insuficiente por esta tarefa.

O queijo minas artesanal precisa urgentemente abrir as fronteiras nacionais e comparecer de forma legal, sanitária e tributária, para desafogar os comerciantes e premiar produtores com preços que permitam a continuidade desta atividade ímpar e apaixonante.

Sem uma regulamentação realista e que considere os aspectos humanos das partes envolvidas, continuaremos escondendo o sol com a peneira, sustentando uma legislação antiquada e, sobretudo, inútil.

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