Por Andréia Meira Schlickman e Ulisses de Arruda Córdova, do Rio Grande do Sul
De 04 a 06 de junho foi realizado em Belo Horizonte o Fórum Internacional: Indicação Geográfica, Patrimônio Cultural e os Queijos de Leite Cru. Participaram representantes de instituições públicas e privadas; de ensino, pesquisa e extensão; associações de produtores, cooperativas e sindicatos. O objetivo foi discutir as questões:
- de legislação e ordem sanitária,
- de agregação de valor aos queijos artesanais de leite cru,
- das indicações geográficas (IG)
- e das consequências, para o desenvolvimento rural, do registro como patrimônio imaterial.
Foram apresentadas diversas experiências que estão sendo implementadas no Brasil, entre elas o Projeto Queijo Artesanal Serrano de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, o Projeto Queijo Minas Artesanal especialmente das regiões da Canastra, Araxá, Cerrado e Serro; os Queijos Coalhos do Nordeste, Queijo do Marajó, e o Queijo Comté (França). Em todas as apresentações foi destacada a íntima ligação da produção dos queijos de leite cru com a história e a geografia das regiões, além da importância social e econômica que envolvem a produção e o saber fazer de milhares de famílias agricultoras.
Uma importante degustação de queijos artesanais enriqueceu os depoimentos dos produtores e marcou o fórum com importante momento de reflexão:
“…Espero que não olhem para o nosso queijo apenas com uma visão microscópica,…, mas que tenham a visão de um todo e possam ver que para cada produtor que abandona sua propriedade é mais um para engrossar as favelas nas cidades, que nas propriedade onde se faz o queijo há uma demanda de mão de obra, com isso a permanência de toda uma família no meio rural” (Produtor de Queijo Minas Artesanal). E para o Brasil e as regiões produtoras de queijo artesanal essa permanência tem contribuições sociais, ambientais, econômicas além de preservar modos de vida, saberes,memórias, história e cultura, que são os maiores patrimônios de um país.
Representando o Projeto do Sul Brasil, como uma das experiências convidadas a apresentar o seu estudo de caso, a equipe do Projeto Queijo Artesanal Serrano abordou o tema Queijo artesanal serrano: história, cultura e renda nos campos de altitude de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
6° Concurso Estadual de Queijo Minas Artesanal
Com objetivo de valorizar esse produto histórico, de grande importância social e econômica e fortalecer a rede de apoio à cadeia produtiva do Queijo Minas Artesanal, o concurso estadual envolveu a participação e aproximadamente 150 produtores. Na primeira etapa foram realizados concursos regionais entres as regiões do Araxá, Cerrado, Canastra e Serro, das quais três já possuem certificação de indicação de procedência. No concurso estadual foram avaliados 20 queijos com finalistas de cada região, com os seguintes critérios: Apresentação, textura, cor, odor e sabor.
Entre os 21 queijos finalistas, o vencedor do concurso foi José Maria de Oliveira, de Rio Paranaíba, no Cerrado mineiro. Em segundo lugar, José Geraldo Moreira da Silva, da Serra do Salitre, Região do Cerrado e em terceiro Cleniudo Alves Teixeira, do município Medeiros, região da Serra da Canastra. Valdete Alves de Oliveira, de Rio Paranaíba, do Cerrado ficou em quanto e em quinto lugar, de Tapiraí, da Região da Canastra, o produtor Nereu Ramos Martins.
A Banca de jurados foi composta por quinze ‘especialistas’, com destaque para Arlete Aguiar Pucci, Epagri-SC, Projeto Queijos Artesanal Serrano; Edian Bastos, Chefe de Gabinete do Instituto Mineiro de Agropecuária; Jonas Guimarães e Silva, Doutor IFET/ Bambuí; Marco Túlio Borgatti, Gerente Técnico do Sistema Ocemg; Marcos Mergarejo, Doutor em Geografia do Queijo e Almir Vieira Silva, PHD em Zootecnia da Universidade Federal da Amazônia.
Após a avaliação houve degustação dos queijos inscritos no concurso, entrega de certificados aos jurados e premiação com troféu do primeiro ao quinto lugar, pelo Secretário Estadual de Agricultura João da Silva. Segundo Arlete Aguiar Pucci, o evento valorizou e divulgou o trabalho realizado pelos técnicos, instituições e produtores e a qualidade dos queijos participantes do concurso são a representação dessa soma de esforços.
A importância da Indicação Geográfica
Pontos importantes do evento foram a interação, troca de experiências e estabelecimento de redes de contatos para a sequência das ações regionais no que diz respeito à legislação sanitária, a certificação e governança das indicações gráficas – IGs. Assim como o modo em que estão elaborando a solicitação e registro e o plano de salvaguarda como patrimônio cultural. Processos que reconhecem e legitimam o valor dos queijos artesanais de leite cru e contribuem para o fortalecimento da cadeia produtiva e para a preservação dessa atividade centenária no Brasil.
A organização da rede de apoio aos queijos artesanais do Brasil e a reunião do MAPA para envolvimento de mais participantes da rede pública, privada, ongs, produtores e consumidores ocorreu no Comitê Nacional, que discute uma legislação específica para queijos artesanais, até então inexistente no Brasil. Também foi apresentada a proposta de criação da Sociedade Brasileira de Queijos Artesanais, que está em articulação, e será apresentada no 2° Simpósio de Queijos Artesanais do Brasil, em novembro deste ano.
Entre os benefícios gerados pelo registro de IG estão:
- a a melhoria qualitativa dos produtos,
- a proteção legal e valorização do nome,
- a maior organização dos produtores em associações ou cooperativas, a agregação de valor,
- a rastreabilidade,
- a salvaguarda do patrimônio cultural e
- o desenvolvimento de atividades como o agroturismo.
A iniciativa do evento foi da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa), da Superintendência do Iphan em Minas Gerais, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), do Ministério da Agricultura, do Agroalimentar e da Floresta da França, da Embaixada da França no Brasil, da Emater-MG e do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA).
Os autores: Ulisses de Arruda Córdova ([email protected]) é engenheiro agronômo e Andréia de Meira Scklickmann ([email protected]) é pedagoga e extensionista rural.