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Livro do queijo Araxá: o pingo da alma

araxa2_capaUma publicação da Associação dos Produtores de Queijo Artesanal Araxá, o livro “O Pingo da Alma” conta “a história e as estórias” desse queijo que sustenta cerca de dez mil famílias em onze municípios, do norte da serra da Canastra até o alto do Rio Paranaíba. Atualmente, a região se organiza para conseguir o selo de Indicação Geográfica.

Por Débora Pereira
Fotos (extraídas do livro) por Carla Mesquita, Acervo Fundação Cultural Calmon Barreto, Capal e Particulares

Araxá, Campos Altos, Conquista, Ibiá, Pedrinópolis, Perdizes, Pratinha, Sacramento, Santa Juliana, Tapira e Uberaba. Esses onze municípios formam a região queijeira de Araxá, considerada a maior bacia leiteira de Minas Gerais. A produção gira em torno de 1 milhão de litros de leite por dia, sendo 40% transformado em queijo artesanal.

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Para valorizar essa atividade, a associação lançou o livro “O Pingo da Alma” (link para PDF), que apresenta dados históricos, geográficos e culturais sobre o queijo de Araxá.

A ação faz parte de um conjunto de iniciativas para obter o selo de Indicação Geográfica para a região. Em dezembro de 2015, uma pesquisa reconheceu que apenas 14 dias são suficientes para que o queijo de Araxá possa ser consumido sem riscos sanitários.

A obra foi escrita quase como uma poesia pela jornalista Christiane Tassis, que detalha o processo de fabricação e as evoluções econômicas da região. O melhor são os trechos de depoimentos de 24 produtores, que humanizam a história do queijo, justificando sua importância afetiva para a sociedade local, que se alicerça em torno dessa produção.

“Sem açúcar não se compreende o homem do Nordeste”, disse o sociólogo Gilberto Freyre. E sem o queijo Minas Artesanal, talvez não se compreenda o mineiro e suas origens. Só nas serras mineiras poderia nascer esse alimento, que traz em seu leite as montanhas, pastos, nascentes, fazendas, o andar manso dos bois, o trotar dos cavalos e o trabalho duro e silencioso de muitas gerações, que há séculos perpetuam essa tradição.”

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Foto do acervo de Carla Mesquita.

Livro em PDF

O queijo curando na cabeça da autora

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Christiane Tassis, foto Vania Cardoso.

A autora do livro, Christiane Tassis é escritora, redatora e roteirista, formada em jornalismo e publicidade. Foi uma das vencedoras da Bolsa de Criação Literária oferecida na FLIP em 2004, o que lhe permitiu escrever seu primeiro livro, o romance Sobre a Neblina . A obra foi mais tarde adaptada para o cinema, no filme Exilados do Vulcão, dirigido por Paula Gaitán, vencedor do Festival de Brasília de 2013.

Ela também foi colaboradora do seriado Sexo Frágil, da Rede Globo e escreve roteiros para cinema e TV.

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A sua visão dos queijos artesanais mudou depois da pesquisa para escrever o livro?

Eu não conhecia muito sobre os queijos Minas artesanais quando fui convidada para escrever o livro. Fui descobrindo, no processo de entrevistas. E fui me surpreendendo como, em nosso próprio estado, Minas Gerais, conhecido nacionalmente pela tradição dos queijos, esta atividade é ainda pouco conhecida e reconhecida em sua essência. Como apreciadores de queijo, acredito que sabemos pouco deste produto que nunca falta à nossa mesa. A própria questão das regiões produtoras: muita gente pensa que os queijos Minas são o do Serro e o Canastra…e se vende o Queijo “Canastra de Araxá”, que é uma contradição ambulante e pouca gente se dá conta.

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O que você pensa sobre a insuficiência dos canais de distribuição desse queijo?

A falta de um sistema de distribuição adequado me surpreendeu. Por exemplo, em Belo Horizonte quase não se encontra o queijo Araxá. Ele é vendido principalmente para São Paulo. O queijo que eu degustei lá, fresco, delicioso, na casa dos produtores, com cinco dias de maturação, jamais será experimentado na capital mineira. Além do tempo de maturação exigido, ele não teria como chegar em larga escala. Acho isso uma pena. Temos um produto maravilhoso, gente disposta a produzi-lo, mas temos pouco incentivo para que outras pessoas possam consumi-lo.

Da mesma maneira, quando morei no Rio, ficava doida para comer do nosso “queijinho” e só encontrava o pasteurizado, na maioria dos supermercados. Ou então em locais específicos e muito caros. Falta também divulgação, explicação sobre a legislação do queijo de leite cru, da questão das embalagens, das regiões produtoras, do sabor, enfim, falta um investimento maior para que possamos não apenas apreciar, mas entender  que o que estamos apreciando faz parte de um grande tecido social, de uma história de muita luta e que vem sendo preservada muitas vezes, por insistência dos pequenos produtores, que geralmente amam o que fazem.

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O que mais te emocionou durante a escritura?

Fiquei muito tocada com o amor, cuidado e a luta com que são feitos os queijos na região de Araxá. Gente simples, que ama o que faz, e que tem no queijo um apego de família – praticamente cresceram em meio à atividade queijeira e não querem fazer outra coisa. Passaram por inúmeras dificuldades, e seguem na luta – o prazer é manter a qualidade do queijo, fazer o melhor.

Percebi também que os jovens estão indo estudar fora com intenção de incrementar os negócios da família, ou seja, querem seguir na atividade, gostam mesmo de fazer queijo. É um negócio que as pessoas se emocionam ao contar, ou seja, que é o tipo de atividade feita também com o coração, e não apenas como um negócio, uma empresa. Através do livro também conheci e compreendi um pouco mais sobre a nossa colonização e o povoamento de Minas – é possível contar nossa história a partir de um pedaço de queijo! Um produto feito de tempo, da história de muitas gerações, que interliga todas as regiões do estado. Uma história que merece ser contada!

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Quais são seus projetos para o futuro?

Pretendo me envolver com outros projetos ligados à narrativas audiovisuais e literárias, envolvendo o universo do queijo Minas artesanal, são tantas as possibilidades! Fizemos também um mini documentário, encartado no livro, onde produtores e pessoas ligadas ao Queijo Araxá contam suas histórias, algumas delas curiosíssimas. Se percorrermos todas as regiões, teremos um mosaico de parte significativa de nossa cultura, que merece ser divulgada e preservada, para esta e para as futuras gerações.

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